A cada 140 caracteres, R$ 1,5 mil. Esse é o preço a que pode chegar um tuíte pago, tendência que começa a ganhar terreno fértil no Twitter, no Brasil, entre tuiteiros que não têm vitrine nas grandes mídias. Depois dos pro-bloggers – aqueles blogueiros que transformaram seus diários na web em ganha-pão –, os mais populares adeptos da rede baseada em mensagens curtas já até emitem nota fiscal na venda de tuítes para empresas interessadas em anunciar dessa nova forma. O negócio tem valor ascendente: quanto mais seguidores, maior o preço da mensagem.
Com mais de 155 mil seguidores, é assim que a jovem Joyce Falette, de Belo Horizonte, capitaliza suas tuitadas: a cada novo seguidor, seu valor de mercado sobe R$ 0,01, por tuíte. Ela criou o @Pedreiro_Online, personagem de humor que tem mais de 157 mil seguidores na rede. Passado o susto de descobrir que uma jovem futura administradora de empresas é responsável pela cantadas mais machistas da internet, a loira explica que criou o perfil sem quaisquer pretensões.
A página, que brinca com os flertes típicos dos funcionários da construção civil, terminou levando o patrocínio da MRV. Por pacote de 40 tuítes que divulgaram concurso cultural da marca durante dois meses, Fallete e a amiga Bianca Müller, de Curitiba, cocriadora da brincadeira que virou bom negócio, embolsaram R$ 20 mil. “No volume, negociamos para baixar o preço”, diz a moça.
“Poderia ser arriscado associar a marca a algo irônico, mas entendemos que valia a aposta”, conta Rodrigo Resende, diretor de marketing e vendas da construtora. Ele foi o autor a ideia de aproveitar o apelo do divertido personagem da construção para a condução on-line da campanha: “Eu já seguia o perfil e morria de rir”. Na trajetória de capitalização do perfil do Pedreiro Online, Joyce diz que o ritmo de crescimento do número de seguidores chamou atenção: “Criamos o perfil em um dia, no final do ano passado, e no outro já tinha mais de 2 mil seguidores”.
Mensagens como “Gata, você não é o encontro de duas retas, mas tá no ponto, sua linda,” ou “Gata, eu só não te fisguei ainda porque não tenho isca pra sereia, sua linda”, escritas somente em letras maiúsculas, são recordistas de retuítes. Essa replicação de conteúdo, própria do Twitter, é o que alavanca o número de seguidores, e ajuda na capitalização crescente dos tuítes pagos. Se alguém “espalha” entre seus seguidores um tuíte de outra pessoa, estimula que outras pessoas o sigam diretamente, aumentando sua audiência. O Estado de Minas apurou que outros perfis conhecidos de humor na rede já têm estrutura de pessoa jurídica para emitir notas fiscais pela prestação de serviços.
“Nem todos estão tão preparados para esse preço tabelado, proporcional ao número de seguidores”, diz Fred Heittman, da Plan B. A agência colocou no ar campanha que articulou tanto tuiteiros famosos, como os apresentadores da MTV Dani Calabresa (127 mil seguidores) e PC Siqueira (819 mil seguidores), quanto outros que têm reconhecimento apenas na rede, como a jovem que usa o pseudônimo Acid Girl. O perfil se caracteriza como “a Sandy ao contrário” e tem pouco mais de 50 mil seguidores. A reportagem apurou que um tuíte dela custa R$ 150, contra os R$ 5 mil pagos aos artistas de TV.
Celebridades não negociam os preços; suas agências o fazem, assim como transações para propagandas, como outras quaisquer. Quando o número de seguidores é muito alto, caso do perfil @Ocriador (espécie de perfil falso de Deus que tem 78 mil seguidores), o cálculo de R$ 0,01 por seguidor tornaria o preço pouco competitivo. Deus, no caso, dá um desconto. E também deixa claro, com a marca #ad (de advertising, anúncio, em inglês), que aquele tuíte tem preço.
Fonte: O Estado de Minas
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