O projeto de democracia implantado nessas nações jamais será como conhecemos no Ocidente. No Brasil, por exemplo, já havia uma tradição política enraizada antes da ditadura militar, e o país caminhava para o liberalismo. Assim, com o retorno do processo democrático, ficou mais fácil voltar ao padrão anterior.
À medida que cresce a pressão sobre Muamar Kadafi na Líbia aumentam também os questionamentos sobre o futuro que espera aquele país – assim como todos os atingidos pela onda de protestos da Primavera Árabe. A própria população se revoltou com seus governantes e, em fortes manifestações, exige a saída deles do poder. Mas depois de três, quatro décadas de ditadura, como essas nações poderão planejar uma eventual transição democrática se nunca tiveram qualquer experiência do tipo e pouco ouviram falar a respeito? Tunísia e Egito foram os primeiros a derrubar seus presidentes, meses atrás, e ainda engatinham rumo ao que pode um dia ser um governo democrático.
Quando um regime ditatorial chega ao fim, é comum ver as desavenças anteriores entre governo e opositores darem lugar a novos conflitos – dessa vez, entre o grupo que pouco antes lutava pelo mesmo objetivo. Na Líbia, por exemplo, as divergências entre tribos, religiões e etnias ameaçam os primeiros passos para a criação de uma democracia: o que inclui uma nova Constituição e a realização de eleições – prometidas para ocorrer dentro de oito meses. “A partir do momento que for sacramentado o fim da era Kadafi, o próprio Conselho Nacional de Transição (CNT) líbio enfrentará conflitos de interesses”, enfatiza Moisés Marques, coordenador do departamento de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina. “A pergunta não é se haverá divisões, mas quais medidas serão tomadas para reparar e controlar essas diferenças”, reitera Wendy Pearlman, especialista em Oriente Médio da Universidade de Northwestern (EUA) e PhD na Universidade de Harvard. (Veja)
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