Pode perguntar a qualquer sanfoneiro, do mais experiente ao iniciante, o ídolo é sempre Dominguinhos. “Quando você escuta as músicas dele ou desiste de ser sanfoneiro ou tem mais vontade ainda de ser tocador”, diz o exuense Felipe Bruno, de 16 anos, estudante de sanfona há apenas um ano.

Mesma opinião tem o forrozeiro Targino Gondim, 18 discos no currículo e uma indicação ao Grammy com a música Esperando na janela. “Dominguinhos é o maior sanfoneiro do Brasil. Ele é um virtuoso não só tocando forró, mas em outros gêneros que ele domina, como valsa, jazz, choro…”, diz. Aos 70 anos, o músico de Garanhuns leva vida de viajante.

Por medo, há 30 anos não entra em um avião. “Já tomei remédio, mas não adiantou. Fui até no médico, mas essa coisa de mexer com a cabeça é muito complicada”, conta Dominguinhos, que também tem medo do mar e de florestas. “É um medo que se confunde com respeito”, diz. Na véspera do que seria o aniversário de 99 anos de Luiz Gonzaga, Dominguinhos chegou no Exu para um show na praça do centro da cidade. Era mais uma parada de uma viagem que começou em São Paulo, onde mora, e seguiu por Brasília, Fortaleza e Natal. “É muito cansativo. Se eu andasse de avião, seria bem mais fácil”, admite.

A primeira vez em que o artista visitou a terra do Rei do Baião foi no centenário do Araripe, em 1968, acompanhando Luiz Gonzaga. “Ele fez uma música para a ocasião, chamada Meu Araripe, e viemos todos: eu, Gonzaguinha, Rosinha”, lembra. Naquele show, Gonzaga reclamou do comportamento dos seus conterrâneos. “Ele estava no auge, em grande forma tocando e cantando. Se naquela época Exu tinha uns 15 mil habitantes, somente uns 30 compareceram ao show na praça, de graça. Ele disse: ‘isso aqui é esquisito, nem eu agrado!”, lembra.

Apesar da má impressão inicial, o sanfoneiro aprendeu a amar Exu. No show que fez pelos 99 anos de Gonzaga, ele tocou, de improviso, uma música instrumental em homenagem ao município. “A música me vem muito fácil, não tenho dificuldade para compor. Mas, quando faço no improviso, esqueço tudo depois. Se gravar bem, senão, perco para sempre”, conta.

Em 2007, Dominguinhos recebeu o diagnóstico de um câncer nos pulmões. Desde então se trata no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, e faz sessões de quimioterapia nas cidades por onde passa, a cada 20 dias.

Apesar dos efeitos colaterais do tratamento, não pensa em parar de viajar para tocar. “Desde que eu comecei que é assim. Parar de fazer isso… não vai ter mais o que fazer”.

Fonte:  Diário de Pernambuco

 

Seja o primeiro a comentar


Poste seu comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos obrigatórios estão marcados com *