A RUA DOS IPÊS

Hoje eu o vi em foto. Foi num quadro. Apenas um pé. Suas gradações de amarelo-brilhante acesas deixou em mim a saudade de tempos atrás. Percebi, ali, naquele exato momento, o quanto tinha sido displicente com sua presença em mim. Nunca lhe dei tanto valor, nem procurei contemplá-lo de perto, pelo menos uma vez. Ver eu vi – algumas vezes, porém não atinei para o fato de sua beleza, de seus gestos naturais. Lembro-me agora de uma rua em que eu passava todas as vezes que eu estava perto de ti e que, na primavera, sempre me recebia – a rua – atapetada de suas folhas, como a dizer: eu me faço caminho, anda por cima de mim e suaviza tua caminhada. Eu passava. Ia e vinha, seguidas vezes, por um, dois, até três tempos. E sempre estavas lá. Engraçado! Só agora eu sinto falta de ti. Talvez seja por ser primavera, época de tua bonança, do teu desabrochar. Pois é. Mas hoje – antes tarde do que nunca – eu te faço uma homenagem em meus pensamentos, em minhas lembranças, em minhas saudades. Talvez eu vá te ver de perto, sem precisar de foto ou de um quadro. E se for, mesmo, que pare e te observe de perto, sem pressa – aí sim, como num quadro. Enquanto isso, enquanto não vou te ver, ornamentarei o meu pensar com tuas flores – ricas em nuanças, e de suave aroma silvestre, como um tributo à sua majestade floral.


Colaboração: Raimundo Antônio ( Escritor Mossoroense)