O empresário Anderson Miguel transformou-se em uma grande fonte (a ponto de ser chamado de “homem-bomba”) paraa Justiça, quando, no dia 25 de novembro de 2010, resolveu falar quem eram os principais operadores de um esquema de cobrança mensal de propina iniciada em 2005 e finalizada em 2008, quando foi del agrada a Operação Hígia. Em depoimento ao juiz federal Mário Jambo, ele revelou que, no mínimo, R$ 3 milhões saíram de sua empresa para abastecer o suposto “mensalão” para manter a sua firma como prestadora do serviço da Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap). Miguel era sócio da empresa de higienização A&G.

A decisão por contar tudo um dia antes do depoimento. “Dormi, refleti, pensei e vi que certas coisas não valem a pena ser feitas”, disse na ocasião. Mário Jambo chegou a perguntar se Miguel queria proteção policial, mas o empresário disse não haver necessidade.

Foi no mesmo depoimento que que ele apontou o então secretário da Casa Civil do governo Wilma de Faria, Wober Júnior; seu assessor, o advogado Kelps Lima; o irmão da ex-governadora, Fernando Faria; o ex-prefeito de Macaíba, Luiz Gonzaga; o filho de Wilma de Faria, Lauro Maia e o jornalista Diógenes Dantas. Segundo Anderson, o funcionamento do suposto propinoduto era de conhecimento de Wilma de Faria. Ele costumava dizer que o pagamento de propina era uma “prática normal”.

Foi de Anderson Miguel a revelação de fatos que iam além do inquérito da Polícia Federal e da denúncia do Ministério Público.

Os empresários envolvidos no crime batizaram o esquema de DX e o dinheiro, segundo o depoimento de Miguel, era entregue por intermediários como o filho da ex-governadora, Lauro Maia, que foi apontado também pelo Ministério Público um dos chefes da organização.

Pelo relato do empresário, a propina era paga em seu escritório de advocacia, na avenida Miguel Castro, em Lagoa Nova, mesmo local onde ele foi assassinado ontem. Como era a feita a divisão da propina, paga em espécie, Anderson Miguel não tinha informações. Porém o destino, segundo ele, era o financiamento das campanhas
políticas.

A A&G começou a pagar a propina a partir do quarto mês do contrato, em virtude do atraso do pagamento por parte do governo pelos serviços de mão de mão de obra.

A sugestão para ganhar mais agilidade no recebimento pelos serviços prestados veio de Mauro Bezerra, sócio da empresa de limpeza urbana Líder. No caso, a dica era “pagar por fora” ao governo.

“Mauro mandou que eu falasse com Vagner Araújo (então secretário de planejamento do governo Wilma). Em seguida, o irmão da governadora, Fernando de Faria, disse que, a partir do mês seguinte, passaria no meu escritório para receber o dinheiro”, disse Miguel, na ocasião, ao juiz da 2ª Vara Criminal, Mário Jambo.

Os valores das propinas pagos por mês chegavam a R$ 90mil, segundo o depoente. Porém no final do esquema, com os valores do contrato defasado, Miguel disse ter pago R$ 20 mil. “Outras empresas pagaram um valor maior. A Emvipol, por exemplo, pagou R$ 100 mil”, detonou Anderson Miguel.

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