No dia em que o Congresso deu sinal verde para a CPI que vai investigar a ligação de políticos e empresas com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, a articulação política do governo Dilma Rousseff foi alvo de fortes críticas da própria base aliada. Sem orientação do Palácio do Planalto, até parlamentares do PT passaram a bombardear o “vazio” na coordenação do governo e, em conversas reservadas, disseram temer o preço que será cobrado pelo PMDB na CPI.

 

“A presidente Dilma está muito bem, mas a articulação política do governo é muito fraca e amadora”, disse o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). Favorável à investigação, ele se surpreendeu ao saber que o Planalto deflagrou uma operação para controlar a CPI e evitar desgaste, já que a Delta Construções – suspeita de injetar dinheiro em empresas de fachada ligadas a Cachoeira – é responsável por obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “A bola da CPI está quicando há duas semanas e ninguém do governo conversou com a gente.”

A revolta de aliados é o pano de fundo que pode contaminar a primeira CPI importante da gestão Dilma. Nos bastidores, integrantes da base avaliam que a precária negociação diante de temas espinhosos – como a dívida dos Estados, o fim da guerra dos portos e a nova repartição dos royalties – pode incentivar uma reação contra o Planalto.

 

Petistas dizem que o PMDB, com o senador Vital do Rêgo (PB) na presidência da CPI, tem a faca e o queijo na mão e pode pressionar por mais cargos no primeiro escalão. “Isso não existe. Também somos governo e temos consciência da gravidade de uma CPI como essa”, observou o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), que esteve com Lula nesta semana.

Prevista para começar na quarta (25), a comissão mista de inquérito investigará as relações do contraventor – preso na penintenciária da Papuda, em Brasília – com agentes públicos e privados, terá a participação do senador Jarbas Vasconcelos, do PMDB. Jarbas foi indicado pela oposição e pelo bloco da minoria no Senado.

 

Os partidos terão até as 19h30 da próxima terça-feira (24) para indicar os integrantes. Ao todo são 15 deputados e 15 senadores, com igual número de suplentes.

Com as assinaturas válidas de 337 deputados e 72 senadores, o requerimento de criação da CPI do Cachoeira foi lido pelo 1º secretário, deputado Eduardo Gomes (TO), na manhã desta quinta-feira (19) em sessão do Congresso.

Fonte: Agência Estado