Por Vera Magalhães, na Folha de São Paulo

 

Dilma Rousseff, normalmente distante da costura política, empunhou agulha e linha com uma ideia fixa na cabeça: tecer a maior aliança possível para 2014, emparedar os potenciais adversários e evitar que a disputa presidencial vá para o segundo turno.

Mas por que uma presidente tão popular, líder absoluta nas pesquisas eleitorais, demonstra tanto medo de se submeter a um escrutínio que seu mentor, Lula, enfrentou três vezes e ela mesma venceu em 2010?

As notícias da economia ajudam a entender a pressa em tentar liquidar a fatura. O PIB, que já vinha acompanhado do sufixo “inho” nas previsões, virou nano”. O crescimento do primeiro trimestre, de 0,6% em relação ao último de 2012, ficou abaixo de todas as expectativas.

A inflação, mostram pesquisas em poder do PT, já preocupa o segmento do eleitorado que vota no partido, acha o governo bom e pretende dar mais um mandato a Dilma. Não por acaso, é o tema central da propaganda que o PSDB leva ao ar hoje.

Iniciante no ofício da costura e não afeita a arremates e bordados, a presidente vai tentando cerzir um “patchwork” que junte PMDB, PSD, PP, PR, PDT, PTB e PC do B. Tudo em nome da hegemonia no tempo de TV.

Isso enquanto coloca toda a sorte de obstáculos no caminho de ex-aliados e possíveis adversários, como Eduardo Campos e Marina Silva.

Não há garantias de que todos os retalhos vão se unir na mesma colcha, nem de que a tentativa de esvaziar as candidaturas rivais não vá justamente consolidá-las, principalmente no caso do governador de Pernambuco, que, de aliado preferencial, passou a inimigo a ser abatido.

Com quatro candidatos competitivos, a chance de segundo turno é real. Enquanto Dilma não conseguir retomar o fio do crescimento econômico e não fizer deslanchar os investimentos prometidos, não haverá costura política, ainda mais com tecidos tão distintos, que evite o risco do temido “tira-teima” nas urnas.