Agora Marina é favorita e Dilma pode não chegar ao segundo turno

“Marina não disputará espaço com Aécio, que ficará com todo o eleitorado conservador para si, mas sim com Dilma: o mapa da mina, para ela, será provar que é mais popular e mais fiel aos ideais históricos petistas do que a própria candidata à reeleição”

Quando a campanha presidencial de 2014 se augurava a mais tediosa e enlameada desde a redemocratização, eis que o Sobrenatural de Almeida, reconhecendo que é impossível desviar o futebol brasileiro de sua marcha para o fundo do poço, resolveu trocar o foco, dando o ar de sua graça na política: com a morte inesperada de Eduardo Campos (PSB), logo no cabalístico 13 de agosto (!), a corrida sucessória virou de pernas pro ar.

De imediato, Marina Silva (PSB) passou a ser a favorita para vencer a disputa que, provavelmente, travará com Aécio Neves (PSDB) no segundo turno. E a candidatura de Dilma Rousseff (PT), que já vinha mal das pernas em função (principalmente) do desempenho pífio da economia brasileira, pode ter recebido nesta quarta-feira o golpe de misericórdia.

Até agora, os que estavam no páreo pra valer eram a ex-guerrilheira que se tornou tecnoburocrata, o neto do raposão conservador e o neto do grande socialista. Dilma levava a vantagem de ser personagem histórica por mérito próprio e, entre três atores políticos com ínfimo carisma, tendia a ser reeleita porque o poder atrai o poder, na razão direta das ambições e na razão inversa da integridade.

A candidatura de Marina era, potencialmente, a mais perigosa para o situacionismo, tanto que um grande esforço de bastidores foi feito para que ela saísse da disputa. Para o bem da democracia, outra porta se abriu. Pena que isso se deva a uma tragédia, algo que sempre temos de lamentar. Mas, confirmou-se de novo que quem age de má-fé acaba dando tiros pela culatra. Ao invés de ser neutralizada, Marina está mais forte do que nunca.

Com ela no lugar de Campos, Dilma não levará vantagem nenhuma em ser mulher, vai perder de goleada na comparação de quem tem mais a cara e o jeitão do povo sofrido (e, portanto, maior afinidade com o perfil dos primórdios petistas – a trajetória dela lembra a de Lula) e tende a ser esmagada nos debates, pois a decoreba dos marqueteiros de nada servirá contra a autenticidade e espontaneidade messiânicas da companheira de lutas do Chico Mendes.

No tabuleiro político, a quase nenhuma ênfase de Campos no ideário socialista do avô, preferindo defender um capitalismo mitigado, o deixava bem mais próximo de Aécio que de Dilma. Como consequência, os dois netinhos correriam na mesma faixa, tentando, ao mesmo tempo, evitar que a petista ganhasse no primeiro turno e obter uma vaga no segundo, contra Dilma, que se apresentaria como a candidata popular, perseguida pelos ricos e pelo Santander etc. e tal.

Marina, pelo contrário, não disputará espaço com Aécio, que ficará com todo o eleitorado conservador e direitista para si, mas sim com Dilma: o mapa da mina, para Marina, será provar que é mais popular, mais antagônica ao grande capital, melhor defensora do meio ambiente, mais inaceitável para a elite branca e mais fiel aos ideais históricos petistas do que a própria Dilma. Acredito que o conseguirá com um pé nas costas, daí a minha previsão de um segundo turno entre (centro-)direita e (centro-)esquerda, ou seja, entre Aécio e Marina.

 

E, claro, sem todo o desgaste acumulado pelo petismo em seus três mandatos presidenciais e levando em conta que o eleitorado de direita é aproximadamente metade do de esquerda, Marina só não levaria se o avião dela também caísse.

O perigo, claro, seria chegar ao poder como uma estatura bem maior do que as forças políticas que a estariam apoiando, com óbvios riscos de turbulência institucional (dependendo de como lidasse com um Congresso mui provavelmente adverso). Duas vezes, com Jânio Quadros e com Fernando Collor, tal quadro se revelou funesto.

Mas, temos de levar em conta também que o esgotamento do modelo petista está levando a insatisfação popular perigosamente para as ruas, de forma que os riscos existem igualmente com a permanência da atual pasmaceira desesperançada. Entre um salto no escuro e a decadência inexorável, é sempre preferível o primeiro, que pelo menos nos dá oportunidade de lutarmos para a construção de um presente melhor.

O eleitorado, evidentemente, não equaciona o problema da mesma maneira, mas se mostra visivelmente saturado. Os ventos de mudança começam a soprar e até Deus os parece estar bafejando…

Fonte: Congresso em Foco