Por Carlos Newton 

A notícia é estarrecedora, deveria ser manchete de toda a grande mídia, dos sites e dos blogs, porque sua divulgação partiu do Banco Central (BC), oficialmente. Quatro em cada 10 brasileiros que usam cartão de crédito não conseguem pagar a dívida. O calote no financiamento rotativo do dinheiro de plástico atingiu 38,5% em novembro, segundo as estatísticas do próprio BC. No cheque especial, a situação também não é boa: 11,1% dos empréstimos concedidos não foram honrados no prazo de 90 dias.

O mais incrível são as “explicações” dos economistas. Alegam que a diminuição da oferta de crédito no Brasil reduziu as opções das famílias na hora de buscar dinheiro e os consumidores então se agarraram às modalidades mais acessíveis (cartão de crédito e cheque especial), justamente as mais caras do mercado, aumentando a inadimplência nessas operações.

Na verdade, os bancos incentivam os brasileiros a comprar, fornecem cartões de crédito a qualquer um e a inadimplência os favorecem, devido aos juros estratosféricos que cobram. Em dezembro houve décimo terceiro salário, a situação pode até ter melhorado. Mas quando saírem as estatísticas de janeiro, veremos que a inadimplência é muito maior, porque até agora não entraram nessas estatísticas os consumidores que ainda estão conseguindo operar com vários cartões de crédito ao mesmo tempo, fazendo um desesperado rodízio financeiro, com um cartão pagando o outro, numa gincana que logo se esgotará.

No meu cartão de crédito (Itaucard), os juros são de 14,86% ao mês, o que significa 439,5% ao ano. É a agiotagem livre, leve e solta, oficializada e legalizada no país do Carnaval.

O índice da inadimplência, portanto, tende a aumentar no início do ano, quando passar a euforia das compras de Natal e os consumidores se reencontrarem com a realidade de suas finanças.

SEM SOLUÇÃO

O pior é que não existe nenhuma fórmula mágica para solucionar esse problema a curto prazo. Como dizia o ex-ministro Mário Henrique Simonsen, “em economia não existe alívio imediato”. Essa crise só se resolverá com a retomada do crescimento da economia, que depende de pesados investimentos em infraestrutura, especialmente na logística das exportações de commodities (estradas, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos), mas acontece que o governo está paralisado pela gastança e pela incompetência, além de ter consumido preciosos recursos financiando obras no exterior, via BNDES, com juros de pai para filho (5% ao ano, que agora passaram para 5,5% ao ano).

É preciso cortar gastos de custeio, adotando-se uma política de austeridade que precisa ser iniciada através da redução do número de ministérios, mas a presidente Dilma Rousseff, supostamente “doutorada” em Economia, não enxerga essa realidade. Vai manter todos os 39 ministérios, não haverá cortes em funções gratificadas nem em cargos comissionados. A farra dos cartões corporativos também será mantida e todos os salários no serviço público estão aumentando, em função do recente reajuste do teto dos ministros do Supremo, que tem efeito dominó sobre Legislativo e Executivo.

LEVY DE MÃOS ATADAS

É nesse clima que Joaquim Levy assume a condução da economia dia 1º. Logo perceberá que não conseguirá fazer nada, porque a vaidade e a incompetência de Dilma Rousseff falarão mais alto. A presidente vive num mundo diferente dos outros brasileiros, em que segue com a família no Aerolula para passar dez dias em Salvador, andando de lancha e tudo o mais, sem gastar um centavo.

Na Alemanha, a governante Angela Merkel não desfruta dessa mordomia. Se quiser viajar com o marido, ele tem que pagar a passagem no avião oficial, que custa cinco vezes mais do que em aeronave comercial. Mas o Brasil de Dilma Rousseff é muito mais rico do que a Alemanha e pode bancar essas extravagâncias. E la nave va, fellinianamente.