Por Carlos Chagas

Surgem a cada dia novas denúncias sobre a lambança na Petrobras. A corrupção no Brasil vem dos tempos de Pedro Álvares Cabral, mas foi a partir do primeiro governo do Lula que deu-se a metamorfose: em vez de instrumento maior do desenvolvimento   e da soberania nacional, a empresa transformou-se na caverna do Ali Babá. Seus planos, programas e objetivos viram-se encaminhados para gerar dinheiro sujo, com a participação de partidos políticos, parlamentares, empreiteiros e altos funcionários. Não dá para aceitar que o então presidente da República estivesse alheio ao que se passava. Senão beneficiário, ao menos conivente ele foi. Sabia do execrável uso da estatal para sustentar e ampliar a influência do PT e outros partidos de sua base de apoio, da mesma forma como não ignorava as práticas do mensalão. Não apenas calou-se, sem tomar providências, mas assim estimulou a roubalheira.

O mesmo aconteceu com Dilma Rousseff, antes mesmo de assumir a presidência, como ministra de Minas e Energia, chefe da Casa Civil e líder do Conselho de Administração da Petrobrás. Como não sabia, se participava, como o Lula, da nomeação de companheiros para a diretoria da empresa? Não terá se beneficiado pessoalmente, mas permitiu para outros os benefícios espúrios através de obras superfaturadas, aditivos contratuais e malandragens propostas pelas empreiteiras, igualmente envolvidas nessa que parece a mãe de todas as tramoias.

 

IVES GANDRA

Fica a pergunta, agora que se avolumam as denúncias e aproxima-se o julgamento dos bandidos, em número cada vez maior, se tanto o Lula quanto a Dilma permanecerão incólumes na devassa. O jurista Ives Gandra já traçou o roteiro da culpa de ambos, mesmo sem personalizá-los. Nessa hora do “salve-se quem puder” torna-se evidente a responsabilidade do antigo e da atual presidente. Não haverá como poupá-los, apesar do constrangimento e dos efeitos catastróficos de sua inclusão nos processos agora prestes a entrar em sua fase definitiva.

As comemorações dos 35 anos de fundação do PT realizaram-se ontem sob a égide de um falso martírio. Os companheiros apresentaram-se como perseguidos, abnegados e sacrificados. Claro que essa categoria também existe, mas está sendo levada de roldão na corrente de sujeira agora à vista de todos.

Em suma, não é nada confortável a situação do Lula e de Dilma, ainda que pareça impossível a concretização do impeachment de uma e da condenação do outro. São muitos os canais que interligam ambos às instituições vigentes e aos grupos do poder social.  Mesmo assim, a conclusão é de estar-se encerrando um ciclo antes tido como brilhante e agora exposto à execração pública. Como o Brasil é maior do que seus vícios e defeitos, consola-nos a certeza de que acabará passando esse amargo período de descrédito em pessoas, ideias e propósitos, um dia tidos como nosso futuro. Lula e Dilma podem escapar das punições, mas da História, jamais escaparão.