Por Pedro do Coutto

Reportagem de Cristiane Jungblut, Maria Lima, Fernando Krakivics e Flávia Barbosa, O Globo de quarta-feira, manchete principal da edição, destaca a aprovação, no Senado, por 39 votos a 32, da Medida Provisória que estabeleceu restrições ao seguro desemprego e ao abono salarial pago por ano aos que recebem até dois salários mínimos. Na realidade, a vitória da maioria, sob o ângulo político, foi a derrota da presidente Dilma Rousseff, do governo e também do PT, cujos integrantes não fizeram um discurso sequer de apoio aos cortes praticados.

Escrevo este artigo depois da aprovação do substitutivo da Câmara à MP 664 que reduz as pensões deixadas por morte dos segurados. Mas o reflexo de ambas as Medidas Provisórias é o mais negativo possível. A oposição ao Poder Executivo não poderia desejar nada melhor. Dilma Rousseff, apoiada num texto de Joaquim Levy, esse homem fatal das histórias de Nelson Rodrigues, enveredou por um caminho absolutamente impopular. Impopular e que, na verdade, não vai levar a economia alguma de gastos públicos. Porque redução de verbas oficiais não pode haver enquanto a dívida interna do país estiver no patamar d 2 trilhões de reais, praticamente 40% do Produto Interno Bruto.

É só fazer as contas. O desembolso com juros passa de 250 bilhões de reais a cada doze meses. O corte exigido por Joaquim Levy (66 bilhões) não dá para cobrir nem um terço do montante dos juros em valores concretos. Eis a questão essencial, como definiu o poeta.

SÓ ILUSÃO

Não adianta contestar. Qualquer contestação inspira-se na fantasia para iludir opinião pública, portanto os eleitores. Por isso é que à medida em que o governo afunda, Dilma Rousseff perde em popularidade, arrastando o PT para o fundo do poço. Aproveito a expressão contida no artigo de Roberto DaMatta, quarta-feira, no Globo. O fundo do poço, expressão atribuída a Poncio Pilatos, reproduzida por Jorge Amado, sobre quem DaMatta escreveu, inspirou também um belo e famoso samba de Noel Rosa. A força da expressão, assim, atravessa, são só os séculos, mas os milênios.

Focalizava o declínio de Dilma Rousseff, em consequência o fortalecimento da oposição e o esvaziamento do governo e da legenda do Partido dos Trabalhadores. Esse processo continuará. Prova disso é a declaração do presidente nacional do PT, Rui Falcão, matéria de Sérgio Roxo, O Globo, ao defender a perda do mandato da Senadora Marta Suplicy junto a Justiça Eleitoral. Destacou um ato, de “oportunismo eleitoral” de parte dela, tentando candidatar-se a prefeita de São Paulo pelo PSB.

ENFRAQUECIMENTO

Oportunismo eleitoral? Isso significa tacitamente reconhecer o enfraquecimento da legenda petista. Pois se ela muda de partido para obter votos que possam leva-la à vitória, claro, é porque esses votos escaparam das ruas onde o PT dominava. A verdade, assim, tanto mora num poço como nas palavras que se tornam capazes de iluminar seu fundo. Roberto Damatta redescobriu a frase. Ajusta-se bem à situação de hoje do governo e do país.