Por Vicente Nunes / Correio Braziliense

O Banco Central está convencido de que, com a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada semana passada, os analistas vão se render mais rapidamente ao discurso de que a inflação vai mesmo convergir para o centro da meta, de 4,5%, até o fim de 2016. Ainda que os próprios técnicos do BC admitam que atingir tal objetivo “parece ser algo quase impossível”, uma vez que a carestia está se aproximando de 9%, todos os modelos econométricos usados pela instituição mostram que o tombo do custo de vida será forte no próximo ano.

A meta do BC, com a ata do Copom, foi consolidar a visão de que os juros vão subir até onde for necessário para que a promessa de levar a inflação ao centro da meta seja cumprida. Por mais doloroso que possa ser para a economia, que está mergulhada na recessão, a prioridade, neste momento, é retomar o controle da carestia. O BC está consciente de que, sem uma inflação mais baixa, a retomada do crescimento econômico ficará mais distante. Não há confiança de consumidores e empresários que resista à disparada dos preços.

Em recentes conversas com técnicos do governo, integrantes da cúpula do BC deixaram claro que, mesmo que o Copom dê por encerrado o aumento dos juros nos próximos meses — o mercado aposta em mais uma alta da taxa básica (Selic) de 0,50 ponto percentual em julho e outra de 0,25 em setembro, passando dos atuais 13,75% para 14,50% ao ano —, nada impedirá que, mais adiante, o arrocho seja retomado, caso a inflação saia da rota esperada.

DOIS FATORES

Na avaliação do BC, dois fatores tendem a levar o IPCA para próximo de 4,5% ao longo de 2016. O primeiro deles é a retomada do controle das expectativas. O entendimento é de que, ao manter firme o aperto monetário iniciado depois das eleições presidenciais, aos poucos, os economistas foram derrubando as projeções para o custo de vida. As estimativas para 2016 estão ancoradas em 5,5% e as de 2017 e 2018 já se aproximam do centro da meta.

Outro fator que anima o BC é a redução da inércia inflacionária, que estimula os agentes econômicos a reajustarem seus preços olhando para trás. Ainda que a diminuição da inércia esteja apenas começando, o mercado passará a incorporar tal movimento em suas projeções, fazendo com que elas se aproximem das previsões da autoridade monetária. O peso menor da inércia na inflação se dará por meio do mercado de trabalho. Com o desemprego aumentando, a demanda por serviços vai diminuir e, em consequência, os reajustes de preços.