Ex-ministra diz que crise econômica foi ocultada pelo governo, defende o fim da reeleição e fala em dar ‘contribuição genuína’

Terceira colocada na última disputa presidencial, a ex-ministra Marina Silva considera que a presidente Dilma Rousseff perdeu as rédeas do País antes mesmo de chegar ao primeiro ano do segundo mandato. Para ela, o “desgoverno”, originado pelo agravamento da crise política e econômica, colocou a condução do Brasil nas mãos de um “triunvirato” integrado pela cúpula do PMDB no Congresso, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Qual é avaliação que a senhora faz deste cenário atual?

A crise que estamos vivendo é profunda, mas ela é anunciada. E tanto é que desde 2010 estamos anunciando. E naquela época falávamos e parecia que éramos um bando de ETs dizendo que era preciso uma nova governabilidade, que era preciso governar com os melhores, que era preciso aposentar a velha República, chamar a responsabilidade da Nova República e orientar as ações do País com uma agenda. É preciso acabar com a reeleição porque é um atraso no Brasil. As pessoas não fazem o que é necessário para o País, fazem o que é necessário para se reelegerem.

Essa crise é um marco para a próxima eleição?

O que se espera na próxima campanha é que se discuta um projeto de País e não projeto de poder. Em lugar de os políticos ficarem usando a crise para ganhar popularidade, que resolvam a crise para evitar os danos à sociedade. O que ela quer é que as lideranças políticas façam aquilo que é importante para o País voltar a crescer, voltar a ter investimentos, controlar inflação, investir na agenda social naquilo que é fundamental e estratégico. O compromisso com essa agenda é dado em cima da verdade, do reconhecimento dos erros, dos problemas. É assim que todos nós vamos ter credibilidade. Não é momento de estratégias para recuperar a popularidade. Esse é o momento de serviço, trabalho, humildade, conversa para recuperar a credibilidade. E conversa não é você encurralar adversários.

A sra. crê que a presidente Dilma chega ao final do mandato?

A presidente Dilma tem um dos maiores desgastes da história da nossa democracia. Mas ela tem a legitimidade institucional do voto. Enquanto não ficar provado peremptoriamente pelas investigações de que há um envolvimento direto, não se muda presidente porque a gente discorda dele. Se não, isso nos levará aos casuísmos. A gente não pode fazer política revogando a lei. Então, eu tenho que me ater aos aspectos daquilo que estão embasados na Constituição. Mas obviamente que o Brasil já está sendo governado por um triunvirato. Quem está governando o Brasil é o PMDB no Congresso, é o ministro Joaquim Levy e, de certa forma, o presidente Lula, ainda que indiretamente.