Por Pedro do Coutto

 

Hoje, domingo, dia de eleição, dia de festa democrática na Argentina, povo nas ruas, principalmente em Buenos Aires, que concentra quase 40% do eleitorado, última etapa dos candidatos buscando os votos nas urnas. São três os principais candidatos, de acordo com os institutos de pesquisas, acentuam as repórteres Mariana Carneiro e Sílvia Colongo, Folha de São Paulo, sexta-feira. Todos se afirmam peronistas: Daniel Scioli, apoiado por Cristina Kirchner, Maurício Macri, também peronista, porém moderado, que conta com o apoio do antiperonismo, e Sérgio Massa, peronista ortodoxo, frontal adversário da atual presidente.

As pesquisas convergem quanto às colocações, mas divergem em relação aos percentuais registrados para cada um. O Poliarquia aponta 37 para Scioli, 26 para Macri, 20 pontos para Massa. O Managent Fit assinala 34 para Scioli, 25 para Macri, 17% para Sérgio Massa. E o Giacobe Associados aponta Scioli atingindo 40, Macri 28 e Massa com 20% das intenções de voto. Portanto para Giacobe, Scioli venceria no primeiro turno, uma vez que atingiria 40 pontos com uma diferença e mais de dez degraus para o segundo colocado. Vamos ver qual deles mais acerta.

 

15% DE INDECISOS

 

Entretanto, as pesquisas divulgadas na sexta-feira não são prognósticos derradeiros. As três empresas admitem existirem 15% de indecisos, além de igual parcela que pode mudar de voto quando se aproximarem das cabines decisivas. Por esta razão, destacam Mariana Carneiro e Sílvia Colombo, os três principais candidatos concentram suas investidas finais na Grande Buenos Aires, tão querida pelos brasileiros e tema de um tango de Gardel, e na cidade operária de Córdoba. Pesam a metade dos votantes de todo o país. O pleito deste domingo amplia a distância entre os tempos da ditadura militar e o renascimento da democracia efetiva.

Na realidade, a luta nas urnas coloca em confronto Macri e Massa disputando o direito de enfrentar Scioli na hipótese de um segundo turno. Scioli, pelas pesquisas, já carimbou seu passaporte, seja para a etapa seguinte, seja direto para a Casa Rosada. Num segundo turno, seu adversário mais temível, sem dúvida é Maurício Macri. Porque congrega os peronistas descontentes com Cristina e a corrente oposicionista da União Cívica Radical que, em 82, elegeu Raul Alfonsin derrotando o peronista Ítalo Luder.

 

REINO PERONISTA

 

Aliás, vale frisar, de 47 até hoje, essa foi a única derrota eleitoral a atingir o peronismo, cuja existência desafia o tempo. Agora, por exemplo, todos os três principais adversários afirmam-se total ou parcialmente peronistas, na reta de chegada. E, apesar das divergências que mantém com cada um deles, também a presidente Cristina Kirchner coloca seu nome, sua origem e seu destino na esfera do peronismo original.

Juan Domingo Perón, assim, ultrapassa a condição de líder de uma facção política, para se tornar um mito da história da Argentina. Nem a posição de neutralidade a que conduziu o país na segunda guerra mundial abalou sua figura. E olha que Buenos Aires deu refúgio a fugitivos nazistas, como no caso de Adolf Eichman, sequestrado em 60 por um comando israelense quando esperava um ônibus para chegar ao seu emprego numa unidade da Mercedes Benz. Teria abrigado também Martin Borman, segundo de Hitler no crepúsculo do nazismo. Esta versão, no entanto, foi negada por Elio Gaspari, no O Globo e Folha de São Paulo, dois meses atrás quando sustentou que Borman foi morto, no covil dos abutres, em Bergdasgen, logo após demitir Goering e mandar prender o ministro da Aviação. Os soviéticos se aproximavam do Bunker e o corpo de Borman encontrava-se estirado no chão.

Tudo isso entre 25 de abril a 8 de maio. Na madrugada de 8 de maio, o almirante Alfred Doenitz assinou a rendição incondicional na cidade francesa de Reims. Mas esta é outra matéria.

Na Argentina, hoje, o embate resume-se a Macri e Massa. Scioli, como no tango em homenagem ao jóquei Irineu Legsamo, chega solo na frente. E se houver segundo turno? O futuro dirá.