Por Luiz Tito /O Tempo

Aviso aos navegantes: chegamos ao fim do ano. Lamentavelmente, passamos 12 meses falando sobre o impeachment da presidente Dilma, motivados por um processo escudado na falta de critério e na atitude criminosa do presidente da Câmara dos Deputados, o imprevisível Eduardo Cunha, e também por dificuldades aguçadas pelo jogo político de poder. O Brasil parou. Passamos um ano com o Senado, a Câmara dos Deputados, o STF e as demais instituições – das quais sempre se esperou a mais participativa e contributiva resposta para o crescimento e aperfeiçoamento da história, das ideias e dos compromissos nacionais – em completa inércia e desídia em seus objetivos. O Brasil, as forças políticas de oposição – se essas honestamente existem – e quem poderia reagir e propor, parou. Nós, atores, paramos. Não parou o declínio das nossas reservas, a cada dia mais desidratadas a ponto de se sonegar o atendimento de obrigações básicas, muitas mínimas da sociedade delas dependente.

Não parou o desemprego que exclui, humilha, deforma, torna indigna e condena à mais ampla miséria a parcela mais significativa da população. Também não parou a ação de um Estado fiscalista, que vai à caixa registradora e aos livros fiscais e conta, moeda por moeda, aquilo que sobrou ao comerciante, ao industrial e ao prestador de serviços, categorias todas essas geradoras de trabalho, de renda e de riqueza, e sequestra as suas reservas, com a insanidade de uma carga tributária impagável, numa economia que disputa, palmo a palmo, espaços possíveis para se impor diante de um mundo globalizado, trazido por uma importação que se confunde com o descaminho, o contrabando, e seu enfrentamento resulta no aviltamento de preços, da baixa remuneração do trabalho e dos processos de produção.

A GULA DOS BANCOS

Não parou a gula dos bancos, sempre maior e insaciável, projetando os que por seus encantos se deixam fascinar, num consumismo estúpido e irracional, ou dos seus favores necessitam quando se encontram no mais profundo abismo, por cujo resultado, se existe justiça divina, ainda há de pagar esse nojento sistema financeiro que temos. Esse mesmo sistema financeiro que os governos protegem, salvando-o com políticas públicas sustentadas, centavo a centavo, pelos recursos do erário. São esses favores que lhes dão, ainda, as credenciais que tornam apenas imoral aquilo que eles chamam de produção. Apenas imoral. Os juros cobrados pelo cheque especial, pelos cartões de crédito, pelos financiamentos da produção, facilitários oferecidos da maneira mais irresponsável e atacadista pela rede bancária, jogados de grila no Brasil, em qualquer outro lugar do mundo são considerados criminosos, ou no mínimo abusivos, suficientes para se levar à cadeia seus beneficiários, ou seja, os banqueiros que os praticam. À cadeia, em fila indiana, para encurtarmos a viagem.

Mas o Brasil é diferente. Até quando não se sabe. Porque, ainda que tardiamente, haverá um dia em que não se poderá mais conter com migalhas a burla da vontade, a sonegação ao atendimento da necessidade, da educação, da saúde, da moradia digna, enfim, do essencial e, sobretudo, da esperança. E aí, talvez, desse flagelo, com vontade e coragem, consigamos gerar melhor realidade.