Por Celso Rocha de Barros – Folha de S.Paulo

Pela primeira vez desde o impeachment, a Lava Jato teve uma vitória: Lula foi preso. Seria mais impressionante se a vitória não tivesse sido contra a mesma turma que perdia para a Lava Jato antes do impeachment.

O que o julgamento no STF provou foi a mesma coisa que os últimos anos provaram: o PT, sozinho, não tem poder para resistir à Lava Jato. Nunca teve, nem quando era governo. O PT também quer parar a Lava Jato. Mas quem tem poder para fazer isso não é a esquerda.

Essa foi a jogada de Carmem Lúcia. Diante da ofensiva para reverter a prisão após segunda instância, a presidente do STF amarrou a questão à sorte de Lula.

Contra Lula tem passeata do MBL, tem imprensa, tem juiz, tem abaixo-assinado, tem jejum e orações, tem chefe das Forças Armadas ameaçando golpe de Estado se Lula não for condenado, tem tucano e bolsonarista covarde concordando com o general.

Mas, de agora em diante, não tem mais Lula para amarrar na frente do problema. Carmem Lúcia deu um belo tiro, mas essa arma só tinha uma bala.

Sempre é possível que a opinião pública, entusiasmada com a condenação de Lula, volte a se mobilizar contra a corrupção. Os últimos dois anos sugerem que isso não vai acontecer. Mas posso estar errado, tomara que esteja, vai ser ótimo para o país se estiver.

Repito, já cansado de fazê-lo: no fundamental, não é culpa dos procuradores, dos juízes, da Polícia Federal. O pessoal seguiu denunciando a direita esse tempo todo. Janot fez de tudo para prender Temer. Na sexta-feira prenderam Paulo Preto, que armava os esquemas do PSDB. É difícil entender por que isso demorou tanto, mas vamos dar aqui esse desconto.

O que ainda não aconteceu é uma vitória da Lava Jato que implique perda de poder para a direita e perda de dinheiro para o mercado. Poderia ter acontecido: Cunha poderia ter caído antes do impeachment, Temer poderia ter caído ano passado. Se Temer cair ano que vem, depois de deixar o Planalto, que diferença faz? O exercício da lei terá sido forçado a esperar Temer se tornar irrelevante, como foi forçado a esperar com Cunha.

A esquerda perdeu o mandato presidencial de Dilma e o que Lula ganharia em outubro. A direita ganhou o mandato de Temer e perdeu o quê?

Se você acha que não faz diferença, responda: por que não esperamos Dilma terminar seu mandato para processá-la pelas pedaladas? Por que o processo contra Lula precisa correr para não deixarmos Lula vencer essa eleição, por que não processá-lo daqui a quatro ou oito anos?

É fácil notar que prender Lula daqui a oito anos não seria uma vitória remotamente tão significativa para a Lava Jato do que prendê-lo agora. Mas a turma do “A Lei é para Todos” está desde 2016 tentando nos convencer que prender Cunha, Temer ou Aécio quando se tornarem irrelevantes não fará diferença.

As coisas podem mudar? Talvez. A divisão da direita na eleição pode favorecer a Lava Jato. Novas manifestações podem enfraquecer o grande acordo de Romero Jucá (não, não é do Lula).

Mas minha impressão é que a vitória da Lava Jato contra Lula foi a famosa “visita da saúde”: aquela melhorada que o sujeito dá antes de morrer. Dessa vez vou ficar muito feliz se estiver errado, e espero ter a chance de escrever minha autocrítica aqui nesta coluna. Só não aposto nisso.