Coluna do Estadão

Com Jair Bolsonaro prestes a completar seis meses de mandato, um aliado que tem assento garantido na mesa onde são tomadas as grandes decisões do governo entende como prodigiosa até o momento a “missão” comandada pelo “capitão”, mesmo a economia permanecendo estagnada e o desemprego em alta.

Segundo ele, na lista das prioridades do Planalto, as duas primeiras estão sendo rigorosamente cumpridas: a “descontaminação” dos gabinetes da Esplanada da “ideologia esquerdista” e o “combate às práticas corruptas” nos ministérios.

PÓS-REFORMA – Na seara econômica, se cristaliza a certeza de que o governo só produzirá efeitos quando a reforma da Previdência for aprovada pelo Congresso. Em audiência recente na Câmara, o próprio ministro Paulo Guedes deu o tom, ao rebater comentários de que a economia não responde: “Responder a quê? O que nós fizemos para ela crescer?”.

No Congresso, a despeito das trombadas na articulação política do presidente, a sensação é de que Bolsonaro foi hábil ao colocar gente na rua pressionando os parlamentares pela aprovação da reforma da Previdência.

A ordem geral no Ministério da Economia é submergir. O objetivo, claro, é evitar o risco de qualquer ruído novo ser mal interpretado, gerar rusgas com o Congresso e atrasar a apreciação da reforma.

SÃO E SALVO – Até agora, o governo avalia ter atravessado são e salvo a tempestade provocada pelas revelações de supostas conversas de Sérgio Moro (Justiça) com procuradores da Lava Jato. Mas acha que uma nova crise com a cúpula do Congresso complicaria o ambiente.

A União tem hoje 50.814 imóveis utilizados para prestação de serviços públicos, avaliados em R$ 654 bilhões no final de 2018. O valor foi obtido via requerimento de informação do deputado Roberto de Lucena (Podemos-SP). O parlamentar vê nesses ativos uma alternativa para a Previdência: “Precisaríamos colocar essa extraordinária carteira no mercado de títulos imobiliários”, afirma Lucena.

DESCONFIANÇA – A alta expectativa pela análise e votação da reforma da Previdência ampliou o clima de desconfiança a reinar em Brasília. De todos os lados, atores em papéis importantes até aqui no enredo do poder temem ser descartados quando o assunto estiver encerrado.

Para fazer pesar ainda mais esse clima, o Estado mostrou que grupos de parlamentares articulam as reeleições de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e de Davi Alcolumbre (DEM-AP) no comando do Congresso. No Executivo, a trama soou como declaração de guerra.