A criação de um partido único de centro é ideia que empolga diversas lideranças, João Doria (PSDB) e Rodrigo Maia (DEM) à frente, mas enfrenta resistências fortes por parte das principais siglas envolvidas na discussão.A Folha de São Paulo conversou com líderes tucanos, do DEM e do PSD, agremiações que formariam o núcleo do novo partido.

O diagnóstico é semelhante: é algo impossível ocorrer para o pleito municipal de 2020 e muito difícil para a eleição presidencial de 2022, quando uma frente contra Jair Bolsonaro (PSL) e a esquerda surge como hipótese mais provável.A fusão, num cenário com 30 partidos com representação na Câmara dos Deputados, sempre pareceu lógica.

No mês passado, durante evento de estreia do deputado Alexandre Frota (SP) na bancada do PSDB em Brasília, o presidente da Casa, Maia, pediu a palavra quando o tema surgiu numa entrevista.

Disse que o fim das coligações em eleições proporcionais, que começa a valer em 2020, levaria à união entre DEM e os tucanos. Ao seu lado, o governador Doria (SP), principal interessado no arranjo.

O tucano trabalha para se viabilizar como candidato à sucessão de Bolsonaro, tentando afastar a imagem de político próximo ao então presidenciável no segundo turno de 2018 – o voto BolsoDoria. Uma musculatura partidária que incluísse DEM e PSD, fora siglas menores, está no radar de seus estrategistas.

A virtude dos partidos como pretendentes a cortejar é a mesma que os faz serem refratários a tal acordo agora.O maior ceticismo vem do DEM, paradoxalmente dadas as declarações de Maia. Seu presidente, ACM Neto, já disse ser contra a fusão.

Dirigentes do partido explicam: a sigla é forte no Nordeste, em especial na Bahia, onde ACM Neto é prefeito em segundo mandato. Além disso, o partido mira de oito a dez capitais na eleição de 2020.

Assim, negociar fusão só faria sentido após o pleito de 2020, numa posição de força – o partido já comanda as duas Casas do Congresso e tem peso em ministérios importantes do governo Bolsonaro, como o da Saúde.

Há também um ressentimento em relação ao que consideram arrogância paulista do PSDB. Um dirigente lembra que os tucanos não têm mais a força que tinham nas gestões de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).