Por Pedro do Coutto

O governo Bolsonaro decidiu liberar recursos antecipados do FGTS e do Bolsa Família, neste caso com a concessão do 13º salário. Reportagens de O Estado de São Paulo e de O Globo destacam que a injeção de 14,5 bilhões de reais destina-se a que compras de final de ano, como sempre acontece, vão aquecer o consumo. Essa afirmativa foi feita pelo Ministério da Economia classificando a medida como de emergência.

Em O Estado de São Paulo, a reportagem é de Adriana Fernandes e Fabrício de Castroi e em O Globo por Eliane Oliveira e Pedro Cappeti. O Globo acentua que as duas antecipações vão aquecer o mercado. Aquecer o mercado? Sim, mas é preciso considerar que os recursos injetados, no caso do FGTS já pertencem aos trabalhadores que possuem carteira assinada.

EIS A QUESTÃO – O comércio está sendo socorrido no final do ano, os assalariados aguardam o 13º. Mas não é esta a questão essencial. O mais importante é que a retração do mercado decorre da perda de poder aquisitivo da população. Está claro. Caso contrário não haveria necessidade de liberação antecipada.

Sem dúvida, representa uma situação de emergência, prova que a política que está sendo colocada em prática até agora não funcionou positivamente. Se tivesse funcionado, não haveria necessidade de transferência dos recursos destinados a programas de habitação, caso do FGTS, e também não haveria necessidade de o governo estender o 13º do bolsa família. Mas neste caso, pode se acentuar que foi uma promessa de campanha eleitoral do presidente Jair Bolsonaro.

DIFICULDADES – Entretanto, a situação ressalta as dificuldades mais do comércio do que os assalariados em incrementar as vendas para o Natal. A dúvida é se antecipação do fundo de garantia servirá para ampliar a comercialização de produtos ou se destina ao pagamento de dívidas já que no país 64 milhões de pessoas estão com o pagamento de seus débitos num atraso superior a 3 meses. São considerados inadimplentes.

Porém, surge a perspectiva de serem pagos débitos em atraso e com isso liberar os devedores de registro negativo. Mas, digo eu, não se deve esquecer que, saldadas as dívidas, os devedores de hoje podem ter seus cartões de crédito liberados, porém para fazerem novas compras financiadas. Assim o resultado de dezembro vai ser apenas um ponto na curva do endividamento.

MOTIVAÇÃO – Explicar esse processo é muito simples: a propaganda comercial se encarrega de motivar os devedores de hoje para serem os devedores de amanhã.

Todo esse panorama assinala que a única forma de manter o mercado aquecido é evitar que os salários percam seu valor de consumo. oSó a queda do desemprego e melhores salários são fatores capazes de alterar para melhor a realidade atual.