Sob pressão desde o início do governo Jair Bolsonaro pela ausência de posições firmes, a direção do PSDB decidiu preparar um documento para demarcar as bandeiras políticas da legenda. O texto será formalizado neste sábado, em congresso que reúne novas lideranças tucanas. Com tradição social-democrata, o partido dará uma leve guinada à direita. Um dos pontos que historicamente foram motivo de divisão no partido, como a defesa da redução da maioridade penal, será uma diretriz a ser seguida pelos filiados.

Os tucanos também vão se posicionar a favor de uma política econômica liberal, como hoje é implementada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Apesar do alinhamento em alguns temas com o governo, os tucanos pretendem combater a política de costumes adotada por Bolsonaro. Para o PSDB, prevalecerá a defesa do direito individual a escolhas sexuais e até mesmo em relação às drogas — no segundo caso, apenas para fins medicinais.

Figuras importantes, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o senador José Serra e o ex-governador Geraldo Alckmin não estarão presentes para participar do congresso, que acontecerá em Brasília. A ideia é dar espaço para que novas lideranças possam se apresentar e traçar estratégias das eleições municipais de 2020.

Outro ponto que recorrentemente causa divisão entre tucanos é a possibilidade de realização de prévias. Em São Paulo, nas duas últimas eleições, brigas em torno do tema contaminaram a escolha dos candidatos majoritários. A partir de agora, defender a organização de prévias será um valor tucano.

As posições serão formalizadas a partir da consulta a filiados. Serão 700 delegados estaduais para discutir o tema, além dos governadores João Doria (SP), Eduardo Leite (RS) e Reinaldo Azambuja (MS). Também comparecerão ao evento prefeitos e lideranças partidárias.

Ao GLOBO, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, disse que iniciativa desse tipo nunca ocorreu no partido.

— Estamos transformando radicalmente a nossa forma de organização partidária. Porque de nada adianta que surjam novos nomes, novas caras, se não formos capazes de mudar o modo como nos relacionamos e como tomamos as nossas decisões — diz.

Além dos pontos já elencados, os tucanos vão defender o fim da estabilidade de servidores públicos e a possibilidade de pagamento de mensalidade em universidades públicas. Também vão condenar qualquer tipo de defesa da ditadura empreendida pelo governo.

Desde que participou da corrida eleitoral em 2018, Doria força o partido a dar uma guinada à direita. O plano, no entanto, desagrada a boa parte dos tucanos. Embora o PSDB tente oficializar uma posição sólida diante de escolhas políticas, a tendência é o partido continuar a ter disputas internas.