Por Pedro do Coutto

Depois de acenar com um projeto que retirava a segurança pública do ministério de Sérgio Moro, que ficaria apenas com a pasta da Justiça, o presidente Jair Bolsonaro recuou e disse que a ideia havia partido de secretários estaduais de Segurança que desejavam unificar as ações voltadas para combater o crime organizado. Acontece que Sérgio Moro imediatamente se manifestou contra a possível perda de poder e deixou claro que pediria demissão.

O presidente da República recuou, mas o episódio mostrou mais uma vez a insegurança do relacionamento entre presidente e ministro quando se trata de questões políticas. O fato é que em uma hipótese de renúncia de Moro, o governo sofreria um abalo extremamente sensível no esquema de poder e governar. A administração federal, como sabemos todos depende muito da permanência do juiz da Lava Jato na pasta para a qual foi nomeado.

AVANÇO E RECUO – O que se fica pensando é a razão de um avanço e recuo, seguidos um do outro, quando logicamente não havia perdido o COAF, que foi transferido para o Banco Central. Com a vinculação do COAF, o ministério da Justiça teria como apurar sonegações fiscais e os depósitos de difícil explicação por parte de seus titulares na rede do sistema bancário.

Portanto, nesse ponto, verificou-se uma colisão entre o titular da Justiça e a representação política que se considerou parcialmente exposta diante da teia formada para combater atos ilegais. Mas isso passou.

Como também passou agora a pressão alegada pelo presidente que o teria levado a admitir um projeto com o qual disse hoje não concordar. Ocorreu então um desencontro tanto psicológico quanto político destinado a abalar o Palácio do Planalto diante da opinião pública.

CERCO A MORO –  Tenho a impressão de que setores atuam internamente para reduzir o poder de Sérgio Moro. Ele, que já é tão atacado por forças do PT e do ex-presidente Lula, estaria exposto assim a uma contradição esquisita: a de incomodar tanto os adversários declarados quanto as correntes adversas entre as sombras da Esplanada de Brasília.

É uma nova versão, estilo 2020, das forças ocultas que levaram à renúncia de Jânio Quadros em 1961. Essas forças ocultas entretanto pertenciam muito mais à imaginação de Jânio do que à realidade dos fatos. Jânio Quadros foi vítima de si próprio. Perdeu o poder para ele mesmo.

Não quero dizer que as situações sejam semelhantes, mas apenas acentuar uma contradição: a de que Sérgio Moro poderia ser o candidato à sucessão de 2022. Essa hipótese não passa de uma ficção. O que Sérgio Moro deseja – e espera – é sua nomeação para o Supremo Tribunal Federal quando se der a primeira aposentadoria na Corte Suprema.