Por Júlia Moura / Folha

Nesta quinta-feira (12), as Bolsas de Valores do mundo tiveram o pior pregão desde 19 de outubro de 1987, período conhecido como Segunda-Feira Negra, no qual o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, desabou 22,61%. Na sessão desta quinta-feira, o Dow Jones caiu 10%, o S&P 500 recuou 9,5% e o Nasdaq, 9,4%. Na Europa, as Bolsas caíram mais de 12%. O movimento reflete o temor de investidores aos impactos econômicos do coronavírus.

A Bolsa de Valores brasileira também teve fortes quedas e escapou do terceiro circuit breaker do dia por pouco. Por volta das 13h50, o Ibovespa cedia 19,60% quando o Fed, banco central americano, anunciou aumento de liquidez no mercado financeiro.

REDUZIU PERDAS – A medida inverteu a aceleração da queda do Ibovespa, que reduziu perdas para 14,78% ao fim do pregão. Caso a marca de 20% de queda fosse atingida, um terceiro circuit breaker (paralisação das negociações) seria acionado, desta vez, por tempo indeterminado.

No início das negociações desta quinta-feira (12), o mecanismo foi acionado duas vezes. A primeira foi logo na abertura do pregão, às 10h21, quando a Bolsa chegou a cair 11,65%. A parada foi de meia hora. A segunda foi às 11h12, quando o índice recuou 15,43%.

Nesta semana, o circuit breaker foi acionado quatro vezes, reflexo da piora da percepção dos danos que serão causados pelo coronavírus sobre a economia global.

NA ERA BOLSONARO – Com o tombo, o índice fechou cotado a 72.582 pontos, no menor patamar desde junho de 2018, antes da corrida eleitoral que elegeu Jair Bolsonaro presidente.

“A semana inteira foi muito intensa, mas hoje vai entrar para a história. Vemos uma saída massiva de investidores de tudo o quanto é jeito. De grandes investidores vendendo ações de países emergentes a fundos que tem que vender. O estrangeiro está se desfazendo de ações sem critério, está vendendo Brasil”, afirma Thiago Salomão, analista da Rico Investimentos.

Dentre as maiores quedas do dia, estão Gol (-36,3%), Azul (-32,89%), Embraer (-26,44%) e CVC (-29%) visto que viagens estão sendo canceladas devido ao coronavírus e a alta do dólar aumenta os custos dessas companhias.

NY DESPENCANDO – Nos Estados Unidos, a Bolsa de Nova York também acionou o cricuit breaker no início do pregão desta quinta, parando negociações por 15 minutos, quando o índice S&P 500 caiu mais de 7%.

O novo gatilho de queda é a decisão do presidente americano, Donald Trump, de restringir voos entre Europa e Estados Unidos sob o pretexto de limitar a disseminação da doença entre americanos.

A consequência mais imediata da medida anunciada na noite de quarta (11) é uma nova queda no preço do petróleo, visto que a demanda das companhias aéreas pelo combustível deve cair.

PETRÓLEO INFLUIU – O petróleo foi o catalisador das perdas desta semana depois que a tentativa da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) de combinar uma redução da produção. A Rússia, que não integra o bloco, não fechou acordo e, em resposta, a Arábia Saudita afirmou que aumentaria a oferta do combustível e reduziria o preço.

A cotação do barril de petróleo do tipo Brent cai 8,77% por volta das 17h50, a US$ 32,65, menor patamar desde fevereiro de 2016.

As quedas das Bolsas desaceleraram com a noticia de que o Fed (Banco Central dos EUA) vai injetar US$ 1,5 trilhão em operações de “repo”, sigla para repurchase agreement (contrato de recompra, na tradução livre). Tais operações se assemelham a operações compromissadas. Nela, o Fed compra títulos do tesouro americano de agentes do mercado por um período determinado, concedendo dinheiro para as instituições. Essa é uma maneira do regulador conceder liquidez ao mercado em momentos de stress financeiro.