Por Ney Lopes

Nesta manhã, a Polícia Federal, cumprindo ordem do STJ, afastou do cargo, por suspeita de corrupção, o governador Wilson Witzel, do Rio de Janeiro, eleito pela legenda do PSC, aliado de primeira hora do presidente Bolsonaro. Decretou prisões de pessoas ligadas ao seu esquema político.

Witzel fez parte da “nova política” brasileira, na eleição de 2018. Apresentou-se e o povo acreditou como um político não profissional com experiência no combate à corrupção.

Witzel é servidor público com passagens pela Marinha, o Instituto de Previdência do Município do Rio (Previ-Rio) e a Defensoria Pública. É professor e ex-presidente da Associação dos Juízes Federais do Rio e do Espírito Santo, com carreira na Justiça Federal por 17 anos.

Centrou sua campanha em dois pilares: o combate à corrupção e à criminalidade, num Estado que tinha um ex-governador (Sérgio Cabral Filho, do MDB) preso e condenado a mais de cem anos de prisão acusado de chefiar um esquema de corrupção, e que há décadas vem mergulhado na violência urbana.

Com o slogan “mudando o Rio com juízo”, e vendendo-se como alguém que “deixou de ser excelência para se juntar ao povo”, o candidato do PSC defendeu uma força-tarefa contra a corrupção, o narcotráfico e as milícias.

Na campanha de 2018 ele declarou: “A população está absolutamente decepcionada com a política. Eu sinto muita receptividade quando digo que sou juiz federal, que não sou político de carreira”.

CONCLUSÃO: O “novo” vira “velho”. Quem condenou a “política”, usou essa mesma “política” para chegar ao governo e fazer o que fez.

O povo, com esse exemplo, deve ficar de “olho aberto”.

Não há “novo”, nem “velho” na disputa política.

Na verdade, o que existe é a “propaganda enganosa”, que se apoia no combate a atos desbaonadores e condenáveis praticados por agentes públicos, como foram no passado os casos apurados pela Lava Jato.

Tais circunstancias demonstram a necessidade do voto consciente do eleitor,  que pressupõe a análise e pesquisa da vida pregressa do candidato.

Uma regra deverá ser o afastamento daqueles que  transformam dever em virtude.

Por exemplo: quem prega honestidade, quando essa condição é dever do cidadão e não virtude.

Tal preocupação não nega o direito do candidato condenar as práticas indecorosas, no manejo do dinheiro público.

Por outro lado, um elemento fundamental na escolha é a identificação da experiencia de quem busque  o voto, que não pode ser afastado do rol de opções, em nome de que somente o “novo” teria virtudes para o exercício do mandato.

É injusto considerar liminarmente praticante da “velha política”, quem já milite há tempo na vida pública.

Até porque, sempre existirão “novos já velhos” e “os velhos ainda novos”.

A cautela recomenda que, na hipótese do eleitor votar errado, a única alternativa será acreditar na Democracia, que oferece os meios de correção do  equívoco nas urnas.

A diferença é que nas ditaduras, os “novos” conseguem  preservar a  sua aparência sem máculas, por serem protegidos pela armadura da força e da prepotência.

Nas democracias, com todas as imperfeições,  esses tipos sempre terminam desnudados perante a população, quer seja pelo Poder Judiciário, ou os mecanismos do Legislativo.

O meio mais rápido é através da justiça, pilar das liberdades públicas, que por isto deve ser preservado a qualquer preço.

Propor o fechamento dos tribunais, alegando  eventuais erros nos julgamentos,  significa  colocar nas mãos do autoritarismo as decisões coletivas.

Witzel é o exemplo mais recente, da necessidade do funcionamento livre da Justiça brasileira..

Somente esses tribunais, em curto prazo, podem punir  casos como esse do Rio de Janeiro, em que a propaganda enganosa  transformou a “nova política” em  “velha política”.