Com a chegada das festas do fim de um ano marcado pela pandemia de covid-19, reunir familiares para as tradicionais ceias natalinas e de réveillon, segundo um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), pode ser uma atividade perigosa. A avaliação se dá, sobretudo, pelo novo perfil de infectados identificado, que hoje é quatro anos mais jovem do que o apresentado em julho de 2020.

Segundo os dados da PNAD Contínua do terceiro trimestre de 2020, em cerca de 147 mil domicílios potiguares (12,2% do total), há idosos residindo com jovens de 18 a 35 anos. Isso aumenta o risco de contaminação, especialmente pelo fato de que, segundo relatórios da Secretaria Estadual de Saúde do RN (Sesap/RN), a população jovem corresponde a quase a metade de casos de covid-19 atualmente (46,5%).

“Festas familiares são um evento catalisador de novas infecções, especialmente quando se reúnem familiares que não tem um convívio diário ou habitual”, enfatizam os pesquisadores em relatório.

Segundo o pesquisador e professor César Rennó Costa, do Instituto Metrópole Digital (IMD/UFRN), o mesmo padrão de evolução da doença no Brasil foi observado em outros lugares do mundo, ocasionado, especialmente, por festas e eventos públicos.

“Na Flórida, nos Estados Unidos, houve um crescimento acentuado de casos depois das festas de Spring Break – algo como um Carnaval em abril –, mas sem que houvesse um paralelo imediato na curva de óbitos. Porém, no mês seguinte, houve uma mudança no perfil dos infectados, tendendo para os mais velhos e logo se observou um aumento nas taxas de hospitalização e de óbitos”, comenta o professor.

Percepção popular

Segundo a pesquisadora Luciana Lima, do Programa de Pós-Graduação de Demografia da UFRN, “o cenário atual é preocupante. Há um contingente alto de pessoas jovens infectadas e uma percepção popular de que a epidemia não está tão avançada, o que pode reduzir os cuidados na realização dos eventos de fim de ano”.

Para os estudiosos, a reabertura econômica possivelmente possibilitou mais exposição de adultos à contaminação, assim como uma maior circulação de jovens em locais com aglomerações, como casas noturnas, bares e eventos. Em conjunto, todos esses fatores podem, segundo a pesquisa, ter contribuído para esse rejuvenescimento da curva de contaminados.

Ainda segundo os pesquisadores, a percepção da população sobre a pandemia não parece refletir a gravidade da situação: os índices de isolamento social de hoje (39%) são menores que no período anterior ao primeiro pico (44%).

Em casos em que as famílias optarem pelas festividades de fim de ano, os acadêmicos aconselham a todos seguirem as recomendações da Fundação Oswaldo Cruz para a redução dos riscos de contaminação.

UFRN