Por Adriano Oliveira*

A invasão do Congresso dos Estados Unidos reforçou as minhas hipóteses para as estratégias do presidente Bolsonaro em 2022: 1) Ideologizar, “reliogizar” e militarizar a campanha; 2) Responsabilizar a Covid-19 pelo fraco desempenho da economia; 3) Descredibilizar a urna eletrônica. Os dois primeiros são legítimos, inteligentes e não comprometem o funcionamento da estressada democracia. Porém, a última estratégia alimenta o estresse das instituições.

Ideologizar a campanha significa o debate de temas que fazem parte dos partidos de Esquerda ou do Centro. Por exemplo: aborto, liberação do porte de armas, Direitos Humanos e Meio ambiente. Reliogização representa o debate sobre os temas citados, o qual alimentará/reforçará a relação de Bolsonaro com os evangélicos. A defesa intransigente dos policiais militares e das Forças Armadas é a estratégia militarizada por parte do presidente-candidato.

Culpar a Covid-19 pelo pífio desempenho econômico do Brasil (cenário plausível) será outra estratégia do presidente Bolsonaro. A pandemia justificará a ausência de privatizações, a não redução da tabela do imposto de renda e o não controle da inflação. Jair Bolsonaro dirá: “A pandemia do coronavírus destruiu as economias das grandes nações e impediu o crescimento robusto da nossa economia”. E dirá que o seu governo criou um grande programa de alcance social: o Auxílio Emergencial.

A última estratégia, descredilização das urnas eletrônicas, é extremamente perigosa para a democracia. Se Jair Bolsonaro for reeleito, a sua posse deve ocorrer sem questionamentos por parte do candidato derrotado. Entretanto, se Bolsonaro perder a eleição, a narrativa “descredibilização das urnas eletrônicas” ganhará força no universo dos eleitores bolsonaristas. Assim ocorrendo, o resultado da eleição será questionado e tumultos poderão acontecer. Inclusive, a invasão do Congresso Nacional.

Tenho grande preocupação com o cenário exposto (cenário é possibilidade), pois o presidente Bolsonaro tem mantido a lealdade das Forças Armadas e de relevante parcela dos militares estaduais e policiais. O que militares e policiais farão, caso o presidente Bolsonaro seja derrotado e convoque a presença deles nas ruas? O bolsonarismo é um movimento de massas. Portanto, tem o poder de influenciar os atores das instituições.

*Doutor em Ciência Política e professor do Departamento de Ciência Política da UFPE.