Por Carlos Newton

Não costumo fazer análises políticas com base em pesquisas de opinião, por se tratar apenas de amostragens, cuja precisão sempre é questionável. Porém, me interessei por um recente levantamento do Instituto Ideia, encomendado pela revista Exame, porque dá destaque a um quesito sempre decisivo – a rejeição.

A pesquisa indica que Jair Bolsonaro (sem partido) e Lula da Silva (PT) são os candidatos com mais chances de irem para um segundo turno na eleição de 2022. Até aí morreu o Neves, como se dizia antigamente, pois a polarização é mais do que óbvia. O problema é que Bolsonaro e Lula (não necessariamente nessa ordem) lideram também em rejeição, por que são do tipo “ame-o ou deixe-o”.

NENHUM DOS DOIS – Os entrevistadores perguntaram se Bolsonaro merece ser reeleito e 48% consideraram que o atual presidente não faz jus a um segundo mandato. Quanto a Lula, os dois estão num empate técnico, porque 46% também não querem a volta do candidato petista.

A alta rejeição é confirmada em outro quesito. Para 38% dos eleitores, nem o petista nem o atual presidente devem subir novamente a rampa do Palácio do Planalto. E somente 33% optariam por um dos dois na disputa.

O levantamento foi feito entre os dias 10 e 11 de março, com margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. Assim, é possível acreditar que a rejeição a Bolsonaro tenha aumentando depois da lambança no caso da defesa do ministro da Defesa e dos comandantes das três Armas.

HÁ CONSENSO – Nesse ponto, aliás, todas as pesquisam concordam – Bolsonaro e Lula lideram no favoritismo e na rejeição. Essa circunstância, diria o genial pensador espanhol Ortega Y Gasset, ilumina a viabilidade de uma terceira via, que começou a se esboçar no manifest0 assinado por seis pré-candidatos de centro, centro-direita e centro-esquerda – João Dória e Eduardo Leite (PSDB), João Amoêdo (Novo), Luiz Henrique Mandetta (DEM), Ciro Gomes (PDT) e Luciano Huck (sem partido).

Outra circunstância é a provável candidatura de Guilherme Boulos pelo PSOL, Se for confirmada, subtrairá muitos votos de Lula e também de Bolsonaro, que ainda tem forte apoio das classes mais carentes, devido ao auxílio emergencial.

MANO A MANO – Se o Supremo confirmar a elegibilidade de Lula, anulando a condenação no sítio de Atibaia, vai ser uma eleição realmente espetacular. Se não houver união de centro, centro-direita e centro-esquerda, sem a menor dúvida Lula e Bolsonaro passarão ao segundo turno, para decidir no mano a mano.

Respeito a opinião nos outros, mas faço um desabafo. Será um sacrifício imenso aturar novamente no poder os extremistas Bolsonaro e Lula, que são faces de uma mesma moeda, velha e desgastada, que insiste em continuar em circulação, embora valha tanta quanto um nota de três dólares.

A terceira via é viável, mas ainda está longe, muito longe, de mostrar ser possível. E la nave va, cada vez mais fellinianamente.