A adesão em massa dos brasileiros ao Pix — sistema de pagamentos instantâneos do BC (Banco Central) — sinaliza um futuro de domínio de fintechs e dos bancos digitais, que vão abocanhar grande parte do mercado anteriormente dominado por bancos tradicionais e operadoras de cartão de crédito, em um novo contexto com taxas inexistentes ou muito menores para transferências entre instituições e com o atendimento baseado principalmente no meio virtual.

A opinião é de Alexandre Pinto, diretor de inovação e novos negócios da Matera, empresa especializada na tecnologia bancária. “Hoje a gente só vê a conta das fintechs aumentando, a dos bancos tradicionais não diminuem. Por quê? Porque ainda tem algumas barreiras de entrada, quando elas acabarem nós vamos começar a ver um movimento de migração”, diz.

Para Alexandre, a rápida adesão dos brasileiros ao meio de pagamento mostra uma necessidade muito grande entre os consumidores por transações mais rápidas no dia a dia, sem taxas a serem pagas a cada transferência entre bancos, que às vezes chegam a R$10 e podem demorar horas.

Em 2021, as transações por meio da ferramenta já são cinco vezes maiores do que as TEDs.  De acordo com dados do BC de janeiro, foram realizadas 292.986.727 operações com o uso do Pix neste ano, número mais de 450% superior às 53.202.010 TEDs feitos no mesmo período.

Os números indicam, porém, que grande parte das transações via Pix são de valores baixos, entre pessoas físicas. O montante transferido por via tradicional ainda é bem maior: R$ 2,76 trilhões, em comparação com R$ 228,4 bilhões via Pix.

Para especialistas entrevistados pelo R7, a superação dos valores transferidos é questão de tempo, enquanto a ferramenta e as empresas se adaptam para os pagamentos neste meio.

“O que estamos vendo do Pix ainda é muito mais transações entre pessoas físicas do que pagamentos para pessoas jurídicas ou transações entre pessoas jurídicas. Ainda tem um potencial para ser destravado que é gigantesco, mas, com certeza esse é o futuro”, prevê o especialista em Finanças, Tecnologia e Tendências, Arthur Igreja.

Últimas barreiras

A evolução do Pix para modalidades que emulam formas tradicionais de pagamento, como a cobrança por meio de boleto (Pix Cobrança) e operações de cartão de crédito (Pix Agendado), deve conquistar ainda mais usuários para transações além daquelas diárias, entre pessoas, segundo Alexandre Pinto.

Assim, os maiores obstáculos para que o meio de pagamento seja utilizado entre grandes empresas, governos estaduais e municipais, já estão sendo superados com impostos já sendo pagos em alguns estados por meio da plataforma, assim como o depósito de valores relativos ao salário de funcionários, ainda não implementado.

A especialista em Banking da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Thais Carnio, traz também pontos positivos da tecnologia aos bancos que trouxerem clientes para seus aplicativos e atendimento por meio do Pix. “Esta vai ser mais uma forma das instituições aumentarem o número de clientes e ofertar seus outros produtos, que são extremamente rentáveis, como os consórcios, empréstimos, empréstimos imobiliários ou aquele crédito para comprar um carro, por exemplo”, pontua.

Para Alexandre, são justamente estes produtos que serão o futuro destas instituições no mercado. Ele compara os bancos de hoje a “hipermercados”, onde clientes podem comprar de tudo, a instituições que no futuro próximo serão parecidas com “hortifrutis”, focadas em crédito para consórcios, previdência privada e outros produtos mais sofisticados.

Ele alerta, porém, que o problema deve ser ainda maior para operadoras de créditos, que perderão toda a vantagem de intermediarem transações. “Quando sair realmente o Pix Agendado, a bandeira perde toda a proposta de valor que é a interoperabilidade, o Pix é a bandeira agora. Estamos falando de um produto que vai substituir o cartão de crédito bandeirado”, conclui.

Gabriel Croquer, do R7