A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) manteve o tom de confronto hoje com os desenvolvedores da vacina contra a covid-19 Sputnik V após negar a importação e o uso emergencial do imunizante russo no Brasil. O diretor-presidente da agência, Antônio Barra Torres, disse que as alegações dos russos de que a Anvisa mentiu são um “ataque feito a um país e a um Estado”.

Em resposta às críticas do Instituto Gamaleya e do Fundo de Investimento Direto da Rússia, responsáveis pela produção da Sputnik V, a Anvisa fez uma transmissão ao vivo nas redes públicas de TV e rádio do governo federal. A agência federal mostrou documentos da vacina e apoiou seus argumentos em diálogos com representantes do imunizante, expostos em trechos de vídeo mostrados na transmissão.

Barra Torres afirmou que o órgão não “mentiu” nem atuou de maneira “antiética” para negar a autorização para a importação e uso da vacina. Após a transmissão ao vivo, o diretor da Anvisa ainda deu uma entrevista coletiva em que criticou os ataques à agência e disse esperar uma resposta com “argumento científico” dos russos.

“Esperamos que esse problema seja solucionado com ciência, com argumento científico”, disse Barra Torres, reforçando que os problemas apontados pela Anvisa estão diretamente ligados à segurança do imunizante. “Ninguém vai ser vacinado com documento, as pessoas vão ser vacinadas com vacinas”, afirmou sobre a possibilidade de correção da documentação.

Decisão polêmica

A decisão que impediu a importação do imunizante foi tomada na última segunda-feira (26), quando a diretoria da entidade proferiu um voto unânime contra a vacina. Para basear sua posição, o relator do caso, o diretor Alex Machado Campos, pediu que três técnicos explanassem sobre os possíveis problemas que teriam encontrado nos documentos russos.

Ao falar, Gustavo Mendes, informou que a Sputnik V poderia ser “prejudicial à saúde humana”. Isso porque, segundo a Anvisa, a vacina usa um tipo de vírus que naturalmente se replica.

“Isso significa que o vírus que deve ser utilizado apenas para carregar material genético do coronavírus para as células humanas e, assim, promover a resposta imune, ele mesmo se replica, e isso é uma não conformidade grave”, disse à época.

O colegiado da agência tinha se reunido de forma extraordinária para cumprir decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski, que havia concedido um prazo de 30 dias para que o órgão regulador decidisse sobre o uso do imunizante.

Ontem (28), o Consórcio Nordeste solicitou à agência “o acesso integral” dos documentos que embasaram a decisão da Anvisa. Os governadores avaliam acionar o STF (Supremo Tribunal Federal) para a aprovação do imunizante russo.

O pedido de uso emergencial da Sputnik V foi protocolado pela União Química, responsável pela vacina no Brasil, no dia 25 de março. O UOL questionou o laboratório brasileiro sobre os argumentos da Anvisa e aguarda uma resposta.

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