Pouco mais de uma hora após sofrer impeachment, o governador afastado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, disse pelo Twitter ter sido vítima de um golpe e comparou o Tribunal Especial Misto (TEM), que votou a favor de sua condenação na tarde desta sexta-feira (30), ao Estado Islâmico.

“É revoltante o resultado do processo de impeachment! A norma processual e a técnica nunca estiveram presentes. Não fui submetido a um Tribunal de um Estado de Direito, mas sim a um Tribunal Inquisitório. Com direito a um carrasco nos moldes do Estado Islâmico, que não mostrou o rosto”, escreveu ele no Twitter, em alusão a Edmar Santos, seu ex-secretário de Saúde.

“O delator que escondia R$ 10 milhões no colchão virou herói neste Tribunal, e a única prova para o golpe! Todo Tribunal Inquisitório é unânime. Hoje não sou eu que sou cassado, é o Estado Democrático de Direito!”, completou.

O pronunciamento aconteceu minutos após Witzel bater boca pela rede social com o deputado estadual Flavio Serafini (PSOL), em sua primeira manifestação pública após ter seu mandato cassado. A interação com o pessolista se deu instantes após o Tribunal Especial Misto (TEM) formar maioria pelo impedimento do ex-juiz federal, eleito em 2018 com uma campanha alavancada pelo fenômeno bolsonarista. Witzel é acusado de crime de responsabilidade por seu suposto envolvimento em fraudes na compra de equipamentos e celebração de contratos irregulares a pretexto de combater a pandemia de Covid-19.

“O desconhecido juiz fascista eleito com o apoio de Bolsonaro se lambuzou em casos de corrupção na gestão da pandemia e agora está definitivamente afastado do seu cargo. E aí, Witzel? Bandido bom é bandido morto?”, escreveu Serafini, numa alusão à política de segurança pública implementada por Witzel, pautada no confronto direto com a criminalidade.

“Você deve viver em outro mundo. O planeta da mediocridade e infelizmente não tem condições de avaliar os trágicos resultados desse impeachment. Não consegue entender que eu fui cassado por combater a corrupção!”, respondeu Witzel.

No dia de seu julgamento, Witzel preferiu se manifestar apenas virtualmente: acompanhou todo o julgamento de sua casa, no Grajaú, na Zona Norte, e se limitou a desferir críticas contra o tribunal pelo Twitter.

“Este processo de impeachment está ignorando a jurisprudência dos tribunais superiores e continua usando a delação de Edmar, surpreendido com 10 milhões de reais, como única prova contra mim. Será uma terrível mácula para a democracia brasileira. Triste”, publicou às 15h54.

Por volta das 16h45 desta sexta-feira, a maioria do TEM referendou, por 7 votos a 0, a denúncia do relator do processo, o deputado Waldeck Carneiro (PT). Cerca de uma hora depois, Witzel ainda não havia se manifestado pelas redes sociais, salvo para discutir com o deputado Serafini.

Contudo, poucos minutos após a confirmação do impeachment, outras figuras dos cenários políticos fluminense e nacional comentaram pela internet a condenação de Witzel, salientando sua ligação inicial com o presidente Jair Bolsonaro e seu posterior rompimento com ele.

“Eleito com apoio da família Bolsonaro, Wilson Witzel cai hoje como um aspirante a Sergio Cabral. É hora de tirarmos o RJ das mãos da máfia e do crime organizado para refundarmos o nosso Estado. O que está em jogo são as vidas de milhões de famílias”, escreveu o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL).

“Sete a zero contra Witzel. Cassado. Perdeu. Acabou. Tchau, querido!”, disse a deputada federal Carla Zambelli (PSL).

O Globo