Por Antonio Lavareda*

Quem seria o Biden brasileiro? Só em situações ficcionais surgem respostas corretas à questões erradas. Procurar identificar o pé do candidato do Centro capaz de calçar o sapato emprestado de Joe Biden é tarefa destinada ao insucesso. Para as forças de oposição a meio caminho entre Lula e Bolsonaro a questão pertinente seria: o quê foi capaz de conduzir à alternativa que derrotou Trump?

A conclusão é uma só: as primárias democratas. Foi esse mecanismo que permitiu a escolha entre 29 nomes do partido. Na sua dinâmica deram-se quatro processos sinérgicos: alguns debates; intensa cobertura da mídia; a elevação do nível de conhecimento dos participantes; e as pesquisas destacando quem tinha maior chance de derrotar o Presidente republicano.

Sabemos que a fragmentação recorde da representação no Brasil não impõe obstáculos apenas à governabilidade – que o Executivo contorna com recursos públicos que viabilizam coalizões. Também coloca óbices às oposições, incapazes de se unirem nas disputas eleitorais. Ainda assim, vimos há pouco um raro exemplo de articulação no Manifesto Democrático, assinado por seis nomes, do centro esquerda ao centro direita.

Mostraram as semelhanças. Mas falta agora exibirem ao país suas diferenças. Não havendo prévia que reúna a todos, só lhes resta um caminho – os debates. Com a maior cobertura possível, nas TVs e nos Portais. A literatura mostra que eles têm um papel único sobre as percepções dos eleitores quanto a preparo, propostas e até o caráter dos concorrentes.

O resultado provável seria o crescimento de um deles, ultrapassando até dezembro a marca mágica dos 10%, em uma escalada capaz de arrebatar mais apoio antes do início da curta campanha oficial. Só entrevistas não produzirão o contraste necessário – todos ao mesmo tempo, no mesmo lugar, discutindo os mesmos temas – que atrai atenção, desperta emoção e gera preferências. Não há outro caminho. Candidatos moderados não “explodem” nas redes sociais. O Pew Research já identificou isso.

Biden tinha pouco mais que dez por cento dos seguidores de Trump. No passado havia uma alternativa, os comerciais partidários. Quem não lembra, um ano antes da eleição de 2002, as peças indignadas do PT ou as de Roseana Sarney, do PFL? Ou Dilma sendo apresentada à população bem antes da campanha de 2010? Hoje, a receita de uma candidatura do Centro deve incluir os debates. Realizados neste ano não sofreriam nenhuma limitação legal quanto ao número de participantes ou partidos convidados.

*Cientista Político