Por Antonio Magalhães*

Hoje pode ser desfeito o segredo da “caixa preta” das urnas eletrônicas do País. Equipamentos datados de 1996 que nunca foram atualizados, só usados no Brasil, Bangladesh e Butão, os nossos repositórios eletrônicos de votos podem esconder muitas coisas, como, por exemplo, se o candidato votado recebeu mesmo a preferência, se o sufrágio foi devidamente arquivado no sistema e se foi honestamente apurado no processo de totalização do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Quem se propõe a revelar o segredo das urnas eletrônicas é o presidente da República, Jair Bolsonaro, que vem avisando que numa live hoje à noite, a partir das 19 horas, em várias redes sociais, vai falar sobre a fraude eleitoral no pleito presidencial de 2014 e na sua própria eleição em 2018.

Segundo antecipou, em 2014, na eleição vencida pela candidata do PT Dilma Rousseff, o representante da oposição, Aécio Neves, foi o ganhador com base nos dados estatísticos do próprio tribunal que ele ficou de mostrar. O presidente disse ainda que vai demonstrar que foi o vencedor no primeiro turno do pleito de 2018. A ida para o segundo turno foi uma manipulação do TSE, acrescentou.

Bolsonaro lembrou que em um dado momento 80% dos votos do Nordeste, reduto petista na época, tinham sido apurados Na região Sudeste, onde era mais forte, tinham sido contados apenas 20%. Nas demais regiões, aproximadamente 50%.

“Eu estava já com 49% dos votos. O próprio Gerson Camarotti, da GloboNews, entre outros, falava que não haveria segundo turno. Mas o que aconteceu foi justamente o contrário. Meus votos diminuíram no Sudeste, onde eu deveria crescer. Isso é um indício fortíssimo de manipulação. Resultado de um sistema arcaico, que não se utiliza mais. Carece de confiabilidade. E não podemos esperar as eleições para fazer algo”, completou o presidente.

Aí é que entra a questão mais polêmica do momento: a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do voto impresso auditável, no momento em discussão numa comissão especial da Câmara dos Deputados. A mudança no sistema de votação acopla às urnas eletrônicas um recipiente seguro em que o eleitor confere seu voto antes de confirmá-lo no aparelho.

O debate sobre o voto impresso auditável chegou à sociedade que vem se posicionando sobre o tema, boa parte é a favor mas têm muitos contra a alteração, que respondem com dificuldade a seguinte questão: por que o medo da implantação do voto auditável?

Respostas vagas e incorretas apontam por ser apoiado por Bolsonaro, porque vai custar R$ 2 bilhões, porque vai judicializar a eleição atrasando os resultados. Isso tudo acompanhado de uma campanha forte de desinformação tocada pelos adversários, pelo TSE e por parte de uma imprensa descompromissada com a verdade.

Esta semana, uma das matérias do Estadão On line mostrava, numa alusão ao momento atual, as fraudes do voto em papel nos anos anteriores às urnas eletrônicas. Sugerindo subliminarmente que as votações propostas atualmente seriam feitas em cédulas de papel, onde o eleitor marcava um “x”, com apuração manual e pouco fiscalizada. Pura má fé. Em pouco tempo a matéria desapareceu da tela.

A comissão da PEC do voto impresso auditável volta a se reunir em 5 de agosto para votar o relatório do deputado Filipe Barros (PSL-PR) favorável à aprovação. No último dia antes do recesso, 16 de julho, os deputados contrários à mudança queriam votar de todo jeito. Num ambiente confuso, o presidente da comissão adiou a finalização do processo.

Mas o golpe contra a mudança tinha sido dado anteriormente quando os partidos trocaram os deputados dispostos a aprovar a PEC na comissão por outros contrários. Um dos golpistas foi o deputado federal pernambucano Raul Henry (MDB), que se prestou para esse papel de exterminador da vontade popular de dar mais segurança ao voto. Triste papel.

Mas aqui retomo o assunto inicial que é a live do presidente Bolsonaro. Quando se espera que revele, como vem dizendo, a fraude eleitoral dentro desse sistema de só urnas eletrônicas, sem a comprovação material do voto.

O presidente pode fornecer provas robustas da fraude e de grande veracidade, mas seus adversários-inimigos, o Tribunal Superior Eleitoral e a imprensa oposicionista nunca vão aceitá-las e continuarão a negar os fatos. Portanto, quem melhor pode avaliar se o que foi dito é verdadeiro ou não, com grande honestidade, são os cidadãos e cidadãs brasileiras, comprometidos com a verdade. A manifestação em defesa do voto impresso auditável, marcada para o domingo, 1º de agosto, em Boa Viagem, pode expressar o sentimento da população. É isso.

*Jornalista