Por Adriano Oliveira*

O medo é sentimento que revela rejeição. Ele surge na mente das pessoas em razão da experiência ou convívio com algo durante determinado período. O medo pode ser oriundo também do ouvir falar. Neste caso, as pessoas falam tanto para outro sobre alguém ou de uma época que a rejeição surge. O medo expressa o desejo de não viver algo negativo novamente.

Eleitores sentem medo de candidatos. Pesquisas qualitativas da Cenário Inteligência provocam os eleitores a manifestarem a sua rejeição a um candidato ou a uma época.

As quantitativas também. Para encontrar o medo para com algum competidor, incentiva-se a lembrança dos votantes. Mas, muitas vezes, não é necessário o incentivo. Os eleitores manifestam espontaneamente a sua ojeriza para com algum candidato e explicam os motivos.

Dados de recentes pesquisas têm mostrado que o medo estará presente na próxima eleição presidencial. O ex-presidente Lula e o atual mandatário da República, Jair Bolsonaro, são candidatos com alta rejeição. A rejeição do candidato do PT diminuiu. E a do atual presidente aumentou. Pesquisas qualitativas revelam que eleitores temem Lula em razão da corrupção presente na era PT. E variados votantes temem Jair Bolsonaro em virtude das suas ações na pandemia, do seu jeito de ser e da grave crise econômica que assola o Brasil.

Neste instante, Lula pode vencer a eleição no 1° turno. Mas não descarto a possibilidade de o candidato do centro ir ao 2° turno contra Lula. Outro cenário é o atual presidente da República estar no turno final contra o candidato do PT. É cedo para construir previsão determinista. É adequado trabalharmos com cenários. Inclusive, o de Jair Bolsonaro não disputar a eleição.

As presenças de Lula e do PT na disputa eleitoral incentivarão a estratégia do medo. Opositores lembrarão da era Lula como a era do PT corrupto. Perguntarão se o Brasil merece ter de volta a corrupção. É claro que Lula reagirá mostrando as conquistas econômicas da sua época. Seria, portanto, o medo da corrupção versus os avanços econômicos. Jair Bolsonaro também será alcançado pela estratégia do medo. Os seus adversários mostrarão o presidente que relegou a vacina, que criticou fortemente as instituições e que mergulhou o país em graves crises econômica e política.

Portanto, a eleição de 2022 será a disputa do medo, da rejeição, da lembrança do que foi ruim. Lula tem uma vantagem: pesquisas qualitativas, em particular no Nordeste, mostram a memória econômica positiva para com a sua era. O candidato do centro também poderá ter vantagem – neste caso, a ausência de memória e a esperança de um futuro melhor sem Lula e Bolsonaro. Quanto ao atual presidente da República, resta a ele incentivar o antipetismo e responsabilizar a covid-19 pela grave crise econômica.

*Doutor em Ciência Política