Por Roberto Nascimento

Estamos vivendo uma hiperbólica “Divina Comédia”, muito mais terrível do que a saga de Dante rumo ao chamado último girão do Inferno, o tenebroso Nono Círculo. Essa insanidade existencial e política aqui no Brasil e no mundo está se tornando uma coisa rotineira, porque é uma continuidade diária – o novo normal.

Na política, não há diálogos civilizados, a suposta guerra do bem contra o mal virou regra, sem distinção entre um e outro, em meio à insistência nesse horror das fake news que semeiam o ódio entre as visões contrárias.

CADA VEZ PIOR – O Brasil está ficando cada vez pior, sem políticos de visão, sem estadistas, sem lideranças verdadeiras, sem nada, repetindo o famoso pensamento de Oswaldo Aranha – um deserto de homens e ideias.

Com as raras exceções, a gente topa somente com políticos querendo enriquecer a qualquer custo. Mesmo que saibam que da vida não levamos nada, insistem em entrar na ciranda do enriquecimento, mas sempre desprezando os interesses nacionais e colocando milhares, milhões e até mesmo bilhões de dólares nos paraísos fiscais, como fazem, sem o menor constrangimento, os economistas Paulo Guedes, ministro da Economia, e o Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central.

Alegam que colocar dinheiro lá fora é legal, embora saibam que é uma iniciativa torpe e antinacional, por demonstrar que os próprios gestores da economia não acreditam no futuro desta nação.

PAÍS À DERIVA – Assim o Brasil se tornou um país à deriva, apesar de dispor de quadros de qualidade e confiança para dirigir a nação rumo ao desenvolvimento. Mas os eleitores parecem preferir aqueles que apenas focam no desenvolvimento das suas famílias e dos seus amigos. O resto é cada um por si.

A grande maioria dos políticos está distante do povo. Quando falam em sandálias da humildade, trata-se de um engodo para enganar o eleitor. Preferem o salto alto, à moda de Luiz XV, o rei da França que se imaginava maior do que seus 1,60 m.

Na época de campanha, desfilam prometendo mundos e fundos. Fechadas as urnas e consagrados como vencedores, começam o festival de arrogância, mandonismo e descumprimento total das promessas. No último ano de governo, em busca da reeleição, iniciam a fase dos pacotes do bem, destinados a enganar de novo o eleitor, que no Brasil tem memória verdadeiramente curta.

SEM SAÍDA? – Aproximam-se as eleições e o quadro parece não se alterar, levando o país a uma nefasta polarização entre dois candidatos moralmente desclassificados, porque os pretendentes da terceira via demonstram uma dificuldade enorme de somar esforços pelo bem do país.

Não livro a cara de ninguém, porque não tenho político de estimação e meu partido é o Brasil.

Precisamos fazer alguma coisa, mas como? Pergunta difícil, parece que estamos num beco sem saída. Não há estímulo para votar em ninguém. No entanto, se enveredarmos pela depressão, a vida vai piorar. Não podemos perder a esperança na humanidade. Assim, penso no lema “paz e amor” da peça/filme “Hair”, para então seguir em frente, de cabeça erguida.