A primeira vacina do mundo capaz de combater vermes passou na primeira fase de testes clínicos em seres humanos, provando ser segura e capaz de criar imunidade a doenças como a esquistossomose.

Criada pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), a vacina foi batizada de Sm14, nome da proteína que o verme Schistossoma mansoni, causador da esquistossomose (doença também conhecida como barriga-d’água), usa para realizar um de seus processos essenciais para sobreviver. A vacina estimula os anticorpos a atacarem a proteína, evitando que o verme se instale no organismo ou cause algum dano. O mecanismo de funcionamento da vacina também é eficaz no combate a outro verme: a Fasciola hepatica, relativamente raro em humanos, mas que ataca rebanhos bovinos, ovinos e caprinos.

Nessa primeira fase, a vacina foi aplicada em 20 pessoas. Todas foram imunizadas e não houve efeitos colaterais. É a primeira vacina humana totalmente desenvolvida no Brasil. “É como se, no campo da aeronáutica, o Brasil tivesse construído um foguete espacial”, diz Tania Araújo-Jorge, diretora da Fiocruz. “Estamos fazendo desenvolvimento científico de ponta: é a primeira vacina para uma doença parasitária no mundo.”

O desenvolvimento da vacina consumiu 30 anos de estudos conduzidos pela pesquisadora Miriam Tendler, do Laboratório de Esquistossomose Experimental do Instituto Oswaldo Cruz (LEE/IOC/Fiocruz). “Esta inovação coloca o país na fronteira do conhecimento em uma área de alta complexidade tecnológica, que é a saúde”, afirma Miriam.

Hoje a esquistossomose atinge cerca de 2,5 milhões de brasileiros, de acordo com o Ministério da Saúde. “Além disso, ela também é uma perpetuadora da pobreza, pois causa uma série de problemas, inclusive cognitivos, em suas vítimas”, diz Tania Araújo-Jorge.

A vacina passará agora para a fase 2 de testes clínicos, que envolverá um número maior de pessoas, inclusive crianças, no Brasil e na África. Se tudo der certo, a vacina ficará pronta para produção dentro de um prazo de 3 a 4 anos.

A esquistossomose atinge 230 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde.

 

Fonte: Fiocruz/MS