Do Blog de Cosme Rímoli, no Portal R7

 

Mais uma morte no futebol brasileiro. Revoltante, por ser evitável. O desleixo cerca por todos os lados a tragédia. Desta vez ela aconteceu em Mossoró. O Potiguar treinava com o sol fortíssimo. A temperatura beirava os 34 graus. O time se preparava para a estreia no estadual do Rio Grande do Norte. O calor era sufocante. O treino foi paralisado para os jogadores tomarem água. Neste instante, o volante de 28 anos Neto Maranhão caiu. E começou a ter uma parada cardiorrespiratória.

 

Foi aí que a sucessão de absurdos veio à tona. Não havia um médico acompanhando o treinamento do time profissional. Nem um enfermeiro, ninguém ligado à área médica. Aliás, o Potiguar não tem um médico contratado. Tem apenas um urologista que presta auxílio de vez em quando. De vez em quando. Amadorismo inaceitável. Os jogadores cercaram o colega que estava morrendo e não sabiam o que fazer. Desesperados passaram a abaná-lo. Um membro da Comissão Técnica tentou improvisar uma massagem cardíaca. Não deu certo. Foi quando se decidiu levar o jogador ao hospital mais próximo.

 

Não havia sequer maca. Os atletas carregaram Neto Maranhão pelas pernas e braços. Uma cena terrível, vergonhosa. Lembrava alguém atingido por uma bala perdida na rua. Nunca em um treino de uma equipe profissional. Roque Alves de Lima Neto chegou morto ao Hospital Regional Tarcísio Maia. A situação ficou pior. Foi revelado que o jogador já havia tido problemas cardíacos no seu antigo clube. No ano passado chegou a ser hospitalizado por isso. Na época, atuava pelo Biguaçu de Santa Catarina. A direção do Mossoró sabia do caso.

 

Mesmo assim não fez qualquer exame cardiológico em Neto Maranhão. E em vários dos seus jogadores. Providência mais do que obrigatória. O dirigentes disseram que acreditaram em alguns exames levados pelo jogador. E o que contou foi a palavra do atleta dizendo que estava tudo bem. Revoltante. Deixar um jogador que precisava trabalhar dar o veredicto se podia ou não atuar. Lógico que a tendência era dizer que estava tudo bem. Todos no Mossoró deveriam fazer os exames obrigatórios para um atleta. Principalmente Neto Maranhão. Só que o clube alegando falta de estrutura financeira, separou os atletas. E os exames estavam começando a ser feitos.

 

Aos poucos. Mesmo assim, o time estava treinando. No clima senegalesco de Mossoró no verão. Sem médico, enfermeiro, sem exames ou mesmo um desfibrilador por perto. O bizarro continua. O Sindicato dos Atletas Profissionais do Rio Grande do Norte tomou uma atitude diante da morte. Denunciou que quase todos os clubes do estado passam por essa situação. Mais de 400 atletas estão se preparando para jogar o Estadual.

 

Muitos sem qualquer exame médico. A temperatura neste estado nordestino fica em média com 37 graus em janeiro. É um absurdo o Estadual começar nestas condições. Outras mortes podem acontecer. A cúpula do sindicato fez um apelo ao Ministério Público. Quer que enfrente a Federação Potiguar e adie a rodada de abertura do torneio. E exija que todos os atletas do Estado passem por exames médicos. Só que há uma grande inimiga. A Federação Potiguar quer que seu torneio comece. Por compromissos com televisão, com patrocinadores.A briga virou política.

 

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