Por Carlos Chagas

Vamos ficar apenas na semana que passou. Segunda-feira ela despachou com quatro ministros e um monte de auxiliares, pela manhã. À tarde, examinou processos até a hora de voar para Belo Horizonte e participar, à noite, junto com o Lula, das comemorações dos dez anos de fundação do PT. Foi dormir de madrugada. Na terça-feira, mais festas dos companheiros e entrega de retroescavadeiras, ambulâncias e casas populares no interior mineiro. Em Brasília, no dia seguinte, despachos com cinco ministros, fora os palacianos, e encontros não registrados pela agenda oficial com empresários e líderes políticos.

Na quinta-feira, mais reuniões com ministros e, de tarde, viagem a Lima, no Peru, para reunião de emergência à noite com os presidentes da América do Sul. Terminado o encontro às duas da madrugada de sexta-feira, em vez de ir a um hotel para descansar, voou para Caracas, onde chegou pela manhã. Só duas horas de descanso. Depois, demoradas cerimônias da posse do presidente Maduro, em Caracas. Não buscou retemperar as forças. Ao contrário, mais um vôo de muitas horas, agora para Brasília.

Teria sido uma semana inusitada, complicada, diferente, para a presidente Dilma? Nem pensar. Sua rotina de trabalho é sempre a mesma, substituídas as eventuais viagens internacionais pelas nacionais, permanentes e igualmente cansativas. Tudo se viu redobrado depois do lançamento de sua candidatura à reeleição. Não há tempo a perder.

COM TODO O RESPEITO…

Para uns, trata-se de patriotismo, dedicação às funções, empenho na tarefa de seguir a linha traçada pelo Lula ou até ultrapassá-la. Com todo o respeito, para outros, é perigoso desgaste. Porque não há organismo humano que resista.Tanto o dela quanto o de seus auxiliares mais próximos. Agem assim aqueles que estão no fim de algum projeto. Ou os que se imaginam no começo, seja no empresariado, no funcionalismo, nas profissões liberais e no esporte. Jamais dará certo na presidência da República, no comando de uma nação, ou mesmo de uma corporação ou de uma atividade qualquer.

Vamos enfrentar os fatos: a presidente Dilma está desperdiçando o que logo poderá não ter mais: além de saúde, o lazer, os sonhos e a felicidade a que todo ser humano tem direito. Parece afogar-se na impossibilidade de deixar o varejo por haver esquecido o atacado. Transformou sua vida numa sucessão de compromissos.

Terá tempo para questionar sua própria existência? Crê num Espírito Superior capaz de ajudá-la a governar ou duvida de velhos dogmas a respeito de nossa presença no planeta? Cultiva o ceticismo da ausência de Deus? Tem tranqüilidade para projetar seu próprio futuro, acima e além da necessidade de permanecer no poder? Pensa em alguma coisa posterior à nossa curta passagem pela vida? Gostaria de contribuir para o aprimoramento da sociedade sem as malhas de leis e regulamentos efêmeros e sempre superadas? Mais do que cozinheira de todas as refeições, melhor não seria melhor ser projetista de cardápios?

Essas questões, se meditadas, poderiam ajudá-la a governar sem a sofreguidão de tudo decidir e tudo conquistar pelo fato de encontrar-se no comando da nação. Em suma, é preciso descobrir a verdadeira Dilma, se é que ela existe, no fundo de tanto dever de casa executado até agora. Mais importante do que inscreve-la na galeria de ex-presidentes da República será saber o que Dilma foi: uma campeã olímpica com o peito coalhado de medalhas ou uma inspiração para as próximas Olimpíadas? As duas coisas, a História comprova que não dá…

 

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