Abaixo, entrevista do presidente da Câmara Federal, Henrique Eduardo Alves, aos jornalistas Anna Ruth Dantas e Aldemar Freire, da Tribuna do Norte.
Como o senhor avalia o cenário para o pleito de 2014? Acho que é muito cedo. Qualquer visão que se insista em ter agora não é a que vai acontecer, não é a verdadeira. Como falta muito tempo, a realidade vai se impor de forma diferente. É inútil discutir agora cenários que poderão não ser verdadeiros. É uma questão apenas de enxergar diferente.
Mas há quem esteja conversando sobre 2014…
Eu acho que esse é um ano muito importante para o Rio Grande do Norte. É o momento de juntar as energias, buscar vitórias para o nosso Estado. Se você tratar essa questão eleitoral e radicalizar, começa a ter olhares atravessados dos interessados. E quero que nessa hora todos olhem para o presente e o futuro do Rio Grande do Norte.
O senhor acha que caminha para uma aliança com o PT? Os petistas colocam como pré-condição não ter o DEM no palanque. Será possível uma aproximação dada essa condição? O PMDB não defende e nem participará de nenhuma solução radicalizada. A história mostra que esse radicalismo não leva aos melhores resultados. Nenhuma solução radical imposta terá a melhor compreensão do PMDB. E digo mais: a questão hoje colocada é que o PMDB é parceiro, sim, da governadora Rosalba. Não adianta querer tapar o sol com a peneira. O PMDB faz parte da base de apoio da governadora. Eu tenho muita autoridade para falar sobre isso porque não a apoiei para governadora na eleição de 2010.
Na ocasião havia posicionamentos diferentes no PMDB…
Eu apoiei Iberê Ferreira, mas, como perdi a eleição e Garibaldi Filho, nesta linha, ganhou, ou ele vinha para cá ou eu ia para lá. Como eu sei ganhar e sei perder, e perdi, para reunificar o PMDB, somei no apoio à governadora. Quem construiu a realidade de hoje foi a liderança vitoriosa do senador Garibaldi junto à candidata Rosalba. Eu me adaptei a essa realidade. O PMDB faz, sim, parte da base da governadora Rosalba, ao lado do PR, do PP e de outros partidos. Esse é o quadro de hoje. Se será o de 2014, até lá saberemos.
O PMDB havia marcado reunião para maio onde discutiria a relação com o Governo Rosalba Ciarlini. Por que desmarcou? Receio de divisão no partido? Eu marquei essa reunião lá atrás, mas havia possibilidade de uma coincidência de estar aqui a presidenta Dilma. Para não ter que desmarcar na véspera, eu adiei. Mas aproveitei também, porque senti que o clima estava sendo contaminado e aqui ou acolá poderia conduzir a uma radicalização do processo para lançamento de candidatura de governador. Não era a reunião que eu queria ter para programar encontros regionais, discutir o Rio Grande do Norte, ter esse papel de construção do qual o PMDB quer ser protagonista.
Isso não obstruiu o debate no partido? Não. Há instrumentos que possibilitam ao PMDB essa posição. Hoje o partido tem o ministro de Estado, o presidente da Câmara. Então eu tenho obrigação de pensar assim. Quando eu vi que a coisa poderia ser meramente eleitoral e radicalizada nesse sentido, aproveitei e não realizei mais. Não quero uma reunião do PMDB para discutir quem vai ser governador, lançar candidatura, radicalizar o processo. Não é hora para isso. Estamos vivendo um momento único no Rio Grande do Norte. Eu não sei quando vai se repetir. Se começarmos agora a nos dividindo, ir para lá ou ir para cá, termina a sinergia se perdendo. Essa é a hora do Rio Grande do Norte atrair investimentos para imensos desafios que precisamos superar.
Mas alguns parâmetros já são possíveis vislumbrar para 2014? Por exemplo, o PMDB terá candidato próprio ao Governo? Hoje não teria motivo para uma definição. Fazemos parte da base de um Governo, que vai discutir na época, entre seus participantes, que rumo tomar. Então, não poderia afirmar, hoje, se haverá candidatura própria do PMDB. Veja, se nós estamos integrando um sistema político com vários partidos, essa decisão deverá ser conjunta. Na época, vamos ver o quadro e, com muito realismo, identificar, as tendências, sentir o que o povo quer. Na época certa, portanto, poderemos aferir.
Mas adiar essa definição não seria prejudicial ao partido? Não gostaria que fosse uma posição isolada. Lógico que todos pensam em candidatura própria para presidente da República, para o Governo do Estado. Essa é uma vontade de qualquer partido. Mas na hora em que você integra um sistema político com outros partidos, não pode ter esse egoísmo como ponto principal. Você tem que participar dessa articulação conjunta até porque uma andorinha só não faz verão. Ninguém pense que sozinho vai ganhar uma eleição por mais forte que possa estar. Temos que buscar parceiros, construir aliança. Se fazemos parte de um grupo, com alianças políticas, acho que no final do ano ou início de 2014, vamos nos sentar, examinar o quadro, com uma grande pesquisa qualitativa que nos oriente, e saber qual a vontade do povo do Rio Grande do Norte.
Pelo fato da governadora Rosalba Ciarlini ter o direito de ser candidata à reeleição, isso quer dizer que no grupo político, do qual o PMDB faz parte, ela é a preferencial para concorrer? Na hora em que ela tem o direito de ser candidata, como Garibaldi Filho teve, e outros tiveram, acho que é a preferência natural. O que precisa saber é se o direito da governadora será exercido ou não por ela. Nessa avaliação terá que se fazer também com dados objetivos, reais.
O que se deve levar em consideração para definir se a governadora concorrerá à reeleição? Como estará sua posição administrativa, como estará avaliado o seu governo e a expectativa de vitória eleitoral. Mas a primeira avaliação será para saber se a solução natural da reeleição estará viável política e eleitoralmente. Esse será o primeiro dado a ser colhido com o qual poderemos concordar ou não. Mas na hora certa, na hora própria e de forma muito leal.
O senhor se sente motivado a ter o nome cogitado nessas discussões que vão ter para uma chapa majoritária? Não. Minha motivação é continuar na Câmara Federal. Acho que tenho papel importante a desempenhar no quadro nacional. Uma saída minha, neste momento da conjuntura nacional, deixaria um vácuo importante. O Rio Grande do Norte precisa manter (essa posição) até para ajudar o governador. Meu projeto, sim, é uma reeleição para deputado federal.
Na próxima legislatura, o senhor poderia ser reconduzido a presidente da Câmara? Aí é o sonho dos sonhos. O sonho já realizei. O ‘sonho dos sonhos’ que pode acontecer ou não, dependerá do resultado da eleição, do tamanho da bancada, do entendimento com o PT e com outros partidos…
Mas esse sonho, como definido pelo senhor, faz parte do seu projeto? Estou muito envolvido, e concentrado, no atual mandato. Está começando ainda, não quero atropelar as coisas. Não tenho o direito de atropelar. Na hora em que você adquire uma experiência, como adquiri, tem que saber que todo dia é a sua agonia ou todo dia sua alegria. É construir passo a passo o caminho.
Mas descarta a possibilidade de uma candidatura ao governo? Para uma candidatura a governador eu não ofereço o meu nome, porque estou em um projeto nacional que é muito importante para o Rio Grande do Norte.
O nome do ministro da Previdência Garibaldi Filho para o Governo é uma possibilidade no PMDB? Sim, poderia ser, porque acho que em qualquer pesquisa que se realize, o nome de Garibaldi vai pontuar em primeiro lugar tranquilamente. Mas é um direito dele também (concorrer ou não). Garibaldi está em um bom momento, é ministro da Previdência. Com a reeleição da Dilma, ele, certamente, continuará ministro nesta ou em outra pasta. É um espaço que o Rio Grande do Norte também não pode jogar fora.
Embora o senhor fale em alinhamento do PMDB com o Governo Rosalba, o próprio ministro, em declarações à imprensa, não mostra descontentamento com a administração estadual? Eu reconheço que o Governo Rosalba não tem atendido as expectativas do PMDB como um todo. Tanto é assim que provocou aquela reunião de Brasília. Mas aconteceram mudanças. Acho que a modificação que ocorreu em recursos hídricos, na saúde e na agricultura, já foi um passo a favor. Se poderemos ter outro nessa direção, isso a gente poderá avaliar. Agora, a insatisfação é evidente. O Governo passa por dificuldades. Mas eu acho que o PMDB tem o dever e, eu aprendi isso com o meu pai (Aluízio Alves), de ajudar. Não pode dizer: “Na hora em que está tudo bem, serei governo. Na hora em que as coisas não estão bem, largarei o barco”. Não é assim. Tem que ajudar a melhorar, a corrigir. Foi isso que aprendi com meu pai.
A deputada Fátima Bezerra confirmou que tem o nome dela posto para o Senado. O PMDB admite discutir isso? Não sei, porque na formação de aliança não pode se discutir só o Senado. Essa será uma eleição que envolve governador, senador, bancadas federal e estadual. A aliança precisa se construída coletivamente e ver também o que é melhor para eleger deputados estaduais, como é melhor para eleger uma forte bancada federal. Vamos discutir esse assunto, na época própria, coletivamente.
Há quem fale em um desconforto do PR no Governo Rosalba Ciarlini. O senhor conversou sobre o assunto com o deputado João Maia? Não. Eu estou cuidando do PMDB, o que já é muito. O deputado João Maia tem muita competência, experiência, é um líder forte partidariamente. Sabe conduzir. Mas eu não tenho a menor dúvida, está na hora de outro conselho político daquele se reunir para avaliar o que foi feito de lá para cá, se as mudanças aconteceram. Eu ainda acho o Governo muito preso nas suas decisões. Ainda acho que não está interagindo como deveria.
O que está travando esse Governo? O que acontece que a governadora não consegue reverter os índices de desaprovação? Primeiro, as medidas econômicas e de investimento que vão gerar um melhor futuro para o Rio Grande do Norte são a longo prazo. Agora mesmo temos um exemplo importante. A presidenta Dilma esteve aqui e destinou, em várias vertentes, quase R$ 2 bilhões para investimentos no Rio Grande do Norte. Essas coisas precisam acontecer para mostrar ao cidadão que o Estado está se desenvolvendo, crescendo e isso pode melhorar a análise do desempenho dos Governos Federal e Estadual. Vamos ver se isso acontece e se vai ser suficiente para recuperar também a posição do governadora Rosalba Ciarlini ou se é preciso um pouco mais. De qualquer modo, o Governo precisa ainda conversar mais, interagir. Mas há também limitações financeiras, que têm levado o Governo a dizer muito “não” àqueles que precisam. Vamos ver se essa é uma questão financeira ou de ordem gerencial, de competência. Essa análise precisa ser feita logo para saber se as circunstâncias melhoram do ponto de vista político e administrativo.
O vice-governador Robinson Faria, em declaração recente, disse que os partidos que estão na oposição não devem mais esperar o PMDB. Como o senhor viu essa afirmação? O PMDB nunca pediu a ninguém para esperar. Pelo contrário, estamos dizendo que, a meu ver, não é hora do PMDB discutir política eleitoral. Quem achar que nesta hora vai conversar eleição 2014 com o PMDB , ajustando chapa, candidaturas, vai cometer um erro. Essa não é a hora para isso.
Por quê? Eu fico imaginando o cidadão norte-rio-grandense, preocupado com a segurança, com a saúde pública… Não passa pela cabeça dele quem será o governador eleito em outubro de 2014. Quem discute isso agora são mais os atores políticos, em nível estadual, municipal. O cidadão não está preocupado em saber quem vai tentar melhorar a sua vida a partir de janeiro de 2015. Quer saber as medidas que serão adotadas neste momento. O PMDB não vai, no que depender da minha condução, mas não mando no partido, precipitar um processo eleitoral. Apenas os que já são candidatos pensam nisso 24 horas por dia. Não é o caso, a meu ver, de ninguém do PMDB.
Quem lança candidatura agora ao Governo e Senado está cometendo um erro estratégico? Pode ser que pense: “Quem é coxo, parte cedo”. Talvez alguém acha que precisa começar a viabilizar o nome, porque não tem uma estrutura partidária maior para dar suporte na hora da decisão. Respeito muito. Mas o PMDB não está nesse cenário e, se depender de mim, não estará até o final do ano.
Houve desobstrução no diálogo do PMDB com o PSB? Acho que houve e eu vi com muito bons olhos o gesto da ex-governadora Wilma em vir aqui à minha casa por iniciativa dela. Eu agradeci e ela foi muito correta. Não discutimos candidatura de 2014. Foi apenas o recomeço de uma relação. Eu tinha uma relação com a ex-governadora muito boa. Foi um gesto político interessante dela que eu registrei.
O senhor também tem dado sinais de reaproximação com o prefeito de Natal, Carlos Eduardo? O prefeito Carlos Eduardo foi eleito e todos nós sabemos que Natal hoje está deteriorada, carente de serviços públicos, de cidadania. O prefeito terá em mim, 24 horas por dia, toda a disposição e apoio para ajudar. Já as questões políticas, o tempo dirá.
Se o senhor não oferece o seu nome para ser candidato a governador, se o ministro Garibaldi Filho também já disse que não oferece, o PMDB tem como apresentar candidatura própria? É impressionante como vocês querem falar sobre esse assunto. Não é hora de discutir isso. Veja, os leitores podem observar, quero registrar, como perguntam sobre esse assunto. Mas não é o momento. Precisamos pensar no Rio Grande do Norte. Temos imensos desafios. O novo porto, o transporte leve sobre trilho, a necessidade de modernizar nosso Estado. Não vou discutir política eleitoral agora.
Há uma expectativa do Rio Grande do Norte com senhor na presidência da Câmara dos Deputados. Teme frustrar essa expectativa? Não. Não vou frustrar, até porque eu penso nisso 24 horas por dia. O meu sonho — pessoal, emocional e político — já realizei. Um deputado de um Estado pequeno, que tem a menor bancada, de oito deputados, foi representante da bancada do PMDB e consegue pelo seu partido se eleger presidente da Câmara, que tem 513 parlamentares. Essa realização pessoal, da minha vida pública, da minha coerência, eu já realizei na hora que sentei ali. Agora, a partir dali, eu quero realizar outro: ser um grande presidente da Câmara para o Brasil e para o Rio Grande do Norte. Vou lutar por isso no que eu puder.
O senhor confirma o edital de licitação da Reta Tabajara para o dia 20? Vão sair os dois dia 20 (o edital de licitação da Reta Tabajara e do projeto da duplicação da BR 304). A gente espera começar em dezembro a obra da BR 304. Isso porque vai ser pelo RDCI que é mais rápido. Pelo RDCI (Regime Diferenciado Integrado de Construção), a empresa faz o projeto e vai construir a obra. O ganhador do projeto, nesse edital, que eu espero até dezembro estar realizado, fica com a construção também.
Esse (a duplicação da BR-304) é o projeto mais importante para esse período no qual o senhor estará na presidência da Câmara? Não. A gente quer conquistar para o Estado, que é urgente, o novo porto. Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco, estrangularam um pouco o nosso porto, que perde competitividade e espaços. Temos que construir o novo porto. E podemos também tentar ampliar a refinaria Clara Camarão, em Guamaré. Ela era para ser maior. Esse é um dos objetivos que a gente poderia traçar. Tem vários projetos que o Estado precisa viabilizar e, para isso, deve ter unidade.
Como viabilizar a conquista desses projetos? Não é só Henrique na Câmara porque uma andorinha só não faz verão. Eu sou forte se eu conseguir unir a bancada, com a Assembleia, com o Governo, aí sim nos apresentaremos unidos e fortes perante o Governo Federal. Há uma questão que também me preocupa muito e precisa de ações urgentes. É a saúde pública. Precisamos de ações que fortaleçam os hospitais regionais e assim diminua o inchaço que há em Natal, com pacientes vindos do interior. A segurança pública também é outro aspecto muito importante. Hoje o que temos é a insegurança pública. É necessário o envolvimento de todos para o reforço dos segmentos que envolvem a segurança com o apoio do Governo Federal.
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