Numa entrevista de página inteira a Fernando Rodrigues, Folha de São Paulo edição de 24 de junho, o senador Lindbergh Farias afirmou que o exercício do poder acaba distanciando os governos da população, de uma pauta mais real da vida das pessoas. Os partidos deixaram de ser instrumentos de mobilização das ruas, inclusive o PT, sua própria legenda. Houve um deslocamento, ou afastamento principalmente em relação à juventude.
Respondendo a uma pergunta de Fernando Rodrigues, Lindbergh lembra que no seu tempo de presidente da UNE, eram necessários quinze dias para articular e marcar uma passeata. Hoje, o movimento é instantâneo através das redes sociais. A União Nacional dos Estudantes – disse – ficou para trás na convocação dos movimentos populares. Perdeu o bonde da história. É como se não fosse tão necessária como em outros tempos. A UNE integrou-se ao governo e, sentindo-se no poder, também está perdendo a perspectiva dos fatos.
A entrevista, em tom de crítica à sua própria legenda, tornou-se um fato político interessante, sobretudo no momento em que, candidato potencial ao governo do Rio de Janeiro em 2014, Lindbergh Farias encontra resistências na própria agremiação. E, recentemente, ao participar de solenidade no RJ, a presidente Dilma Rousseff, ao lado do governador Sérgio Cabral, dirigiu elogios ao vice Luiz Fernando Pezão, a quem o parlamentar deseja enfrentar nas urnas. Conseguirá ser candidato pelo PT?
Não se sabe. Romperá e mudará de partido? É possível, porém não muito provável. Por isso, suas palavras soam tanto como uma autocrítica quanto a uma crítica à direção partidária. Mas o fato dominante da matéria está na mudança detonada pela Internet no sistema global de comunicação. Uma mudança, para melhor, de alto a baixo, na troca de informações.
DUALIDADE
Isso porque, como já escrevi neste site, antigamente havia de um lado as transmissoras e, de outro lado, uma legião de receptores. Continuam a existir, claro, os receptores dos jornais, emissoras de televisão e de rádio. Mas surgiu a grande dualidade: atualmente cada tela de computador significa também um instrumento de transmissão. E já são milhões no país. Com um fator a maias: são peças de transmissão e recepção tanto nacionais quanto internacionais. Essa visão universal acrescenta sensivelmente à navegação livre do pensamento cortando e reduzindo espaços a frações curtíssimas de tempo.
A sociedade, portanto, ganhou mais capacidade de mobilização e viu ampliada enormemente sua capacidade de participação. A troca de opiniões ampliou-se consideravelmente. A forma de opinar também. Tornou-se mais rápido protestar contra as omissões e cobrar dos governos soluções rápidas para os principais problemas que são também fontes de angústia social.
Os partidos no poder anestesiaram-se diante da nova realidade e não perceberam, como chamou atenção o senador Lindbergh Farias, para o sentido da mobilidade das reivindicações. Pois a cada ponto atingido, surgem outros. Mas não apenas isso. Com a Internet, cobram-se as ações contra questões que se eternizam, como se inevitáveis fossem ao universo político partidário. Os partidos na realidade perderam a força porque só aparecem na época das eleições. Passado o episódio das urnas, as legendas encolhem-se e somem das ruas.
Mas neste ponto surgiu a Internet para bloquear essa saída de campo. Os políticos munidos de votos evaporam-se dos centros nervosos da opinião pública. As telas e teclas da Internet entraram em ação como os últimos acontecimentos comprovam para cobrar a presença. Ainda bem que passou a ser assim. Se o quadro político, a começar pelo governo federal, não se apresentar no centro do palco será relegado à posição desconfortável do esquecimento.
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