Por Tereza Cruvinel (Correio Braziliense)
A imprensa européia vem prevendo que, em sua passagem pelo Brasil, o Papa Francisco lançará seu “Evangelho Social”, uma espécie de programa de governo para seu pontificado, iniciado em março. Seu conciso discurso de chegada, entretanto, foi muito focado na importância do resgate da juventude pára a fé, embora tenha se referido à pobre e à desigualdade, tema da saudação da presidente Dilma Rousseff.
Mas a semana do Papa no Brasil está apenas começando, com toda a carga de expectativas que desperta em relação ao futuro da Igreja. Lateralmente, virão os reflexos sobre a nossa política interna. Francisco não escolheu o Brasil como plataforma para esta esperada apresentação de diretrizes, como ele mesmo destacou. Veio para participar da Jornada Mundial da Juventude, o que nem sempre seus antecessores fizeram.
A decisão de comparecer pessoalmente ao evento, em sua edição num país de seu continente de origem, marcado ainda pela pobreza e a exclusão, foi um sinal que ele emitiu logo depois a posse, dizem os vaticanistas. A partir do Brasil, ele falará a seis mil jornalistas credenciados para cobrir a viagem, e a um milhão de jovens, de diferentes países, que participarão da Jornada. “A partir do Brasil, ele falará a todas as periferias abandonadas e humilhadas do planeta”, registrou o periódico espanhol “El País”.
Proliferam, mundo afora, as comparações de viagem de Francisco ao Brasil com a de Karol Wojtyla/João Paulo II à sua Polônia natal, quando o regime comunista mal começava a dar sinais de exaustão, e sua presença foi um empurrão a mais na derrocada.
As expectativas aqui não são muito diferentes, chegando o teólogo Leonard Boff a prever que a passagem de Francisco pelo Brasil demarcará mais claramente a “ruptura” que ele representará para a Igreja.. É razoável esperar isso de quem se apresenta como sendo apenas “o bispo de Roma”, condenando “a tirania do dinheiro” e a “globalização da indiferença”.
Afora os improvisos no trajeto pelo centro do Rio, tudo transcorreu dentro da normalidade e do esperado. Até mesmo seu destemor, ao manter o vidro aberto quando cercado pelos fieís ansiosos por tocá-lo. Até mesmo o forte toque pastoral do discurso, em que se destacou a tirada simpática, “Cristo bota fé nos jovens”. Agora começa a semana que pode ser histórica para a Igreja.
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