Decepções de 7 de setembro, o povo, silencioso, sem objetivo, lembrando a triste ‘independência’
Por Helio Fernandes
Ninguém sabe o que aconteceu. Ansiosamente esperada, longamente convocada, antecipadamente intimidada, desapareceu e não se configurou nem mesmo como multidão. Eram grupos dispersos antes mesmo de se aglutinarem, facilitaram o trabalho dos encarregados de reprimi-los.
Por que o silêncio, a falta de palavra de ordem, a vibração sentida e aplaudida a partir de 6 de junho, quando passou a lugar comum elogiar o povo nas ruas?
Nem povo nem voz, nem bandeiras ou cartazes que identificassem claramente as exigências. Pois se tratava, sem qualquer dúvida, de exigência expressa, denominada, exaltada e obtida.
Entre o 6 de junho e o 7 de setembro, por favor não contem três meses e, sim, uma eternidade. E se três meses de protesto podem ser recuperados, a eternidade é irrecuperável, principalmente em matéria de convicções.
O que todos viram ontem, notadamente no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília: bandos de pessoas, desligadas, desinteressadas e desmotivadas, com gritos em vez de rugidos. E quase todos, nas ruas, perguntando uns aos outros: o que estamos fazendo aqui?
Pareciam turistas da hipocrisia, admirando o próprio silêncio, dissipadas e desligadas as vozes retumbantes e emocionantes, que ressoaram pelo Brasil inteiro.
E não apenas num dia ou numa semana e sim todas as vezes que apareceram nas ruas. E com vozes estridentes, conquistaram a opinião pública, intimidaram aqueles políticos que tanto desgastaram e humilharam esse mesmo povo.
Ainda ouvíamos a primeira frase de 6 de junho, todos voltados para o Congresso: “Vocês não nos representam”. Lamentável. No final, em Brasília, a TV mostrava um cartaz: “QUEREMOS TRANSPARÊNCIA. O que significava essa palavra isolada e quase intraduzível? Foi o Sete de Setembro que não existiu, tão lamentável e deplorável quanto a “independência” que pretendiam condenar.
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