Por João Bosco Leal

Na página social de uma amiga de infância li algo que me chamou a atenção: “Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final… Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome dado, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram”.

Logo me lembrei de como os jovens de minha época sempre foram apaixonados, mas também de como os objetos das paixões variaram muito durante nossas vidas. Eles podiam ser por esportes, times, carros, motos, mulheres, ou qualquer outra que tenhamos vivido.

Os jovens das cidades do interior sempre tiveram opções diferentes e em maior quantidade daqueles nascidos nas capitais. Além dos esportes praticados por ambos, estes também realizavam, nas fazendas, montarias em bezerros para que, na época das exposições de gado, pudessem montar nos “torneios dos cabeludos” – uma categoria distinta da dos peões profissionais, destinada aos filhos dos produtores -, e assim “fazer bonito” diante das meninas.

As próximas paixões eram pelas roupas. Todos adoravam estar bem vestidos, com calças tão justas que eram difíceis de ser vestidas. Posteriormente, além de justas, elas eram de cintura alta, como as dos toureiros espanhóis. Os cabelos eram longos e muito bem cortados. Tudo para “conquistar” as meninas que “paqueravam”.

As “paqueras” viravam paixões com a mesma facilidade com que deixavam de sê-las, pois só duravam entre o início daquela e o surgimento da próxima. Raras se transformavam em amor e, mesmo assim, em um amor mais jovem, com bem menos compromissos que um amor verdadeiro, que normalmente só se consegue na maturidade.

Depois as paixões eram pelos equipamentos de som, instalados nos “consoles” dos carros, as rodas e pneus de “tala larga”, os motores “envenenados”, com dupla carburação e todas as consequências, que só quem já as viveu sabe às quais me refiro. Éramos jovens, com nenhum currículo universitário, e já querendo “preparar” um motor, melhor do quem estudou décadas para produzi-lo.

Já na época dos “cursinhos”, alguns iniciavam sua etapa mais “responsável”, dedicando-se mais aos estudos e pensando em seu futuro, mas muitos continuavam “rebeldes” e só pensavam em “curtir” as novas músicas dos Beatles, dos Rolling Stones. Nesse período, uma minoria insignificante experimentou drogas, raras naquele tempo.

Foi nesse período que todos começaram a traçar caminhos distintos, que gerariam reflexos no resto de suas vidas. Os grupos dos estudiosos, que procuraram cursar faculdades e se profissionalizar na área escolhida, o dos que começaram a ler Kahlil Gibran ou outros grandes pensadores, amadurecendo através deles, e o dos “porra-loucas”, que não souberam virar a página dessa época que haviam vivido.

Independentemente de quais foram, é certo que todos se lembram, com saudades, das paixões e das fases da vida que viveram, mas certamente aprenderam, que nenhuma delas pode se misturar à próxima, motivo pelo qual, ao final de cada uma delas, as páginas precisam ser viradas.

As escolhas individuais – a alegria das conquistas e o lamento das perdas delas decorrentes -, fazem o mundo ser como é, totalmente distinto para cada ser humano, que teve a liberdade de optar por como, quando e por quanto tempo viver cada paixão.

A vida bem vivida é aquela repleta de paixões, mas cada uma em sua época.

 

1 comentário

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    A vida bem vivida - João Bosco Leal
    22 de setembro de 2013 19:48

    [...] – BA ; Manoel Afonso – MS ; O Cão Que Fuma - Massamá – Portugal ; Pádua Campos – RN ; Portal do Júnior – PI ; Tabocas [...]


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