Por João Gualberto Jr.
Mais um caso balizar: o Supremo julga a legalidade da doação privada para campanha eleitoral. Por que essa discussão não se dá no Parlamento, já que ela habita qualquer proposta de reforma política? Os parlamentares reclamam (outra vez) da invasão de sua atribuição. Mas por que não se debruçam sobre a reformulação das regras? Por que não firmam consenso? Por que não têm interesse? Por que é melhor deixar as coisas como estão? Talvez todas as questões acima sejam pertinentes ao mesmo tempo.
O Parlamento, que no papel é a voz do povo, parece preferir o silêncio tantas vezes. O espaço que é dele, constitucional, não ocupa. O que ocorre? Outros o ocupam. E tanto pior do que o vácuo político é o moral. Como seguir na relação quando a conduta do representante fere princípios de justiça e civilidade? Amplia-se o abismo da tal representação.
Começando da base: os vereadores de Belo Horizonte limparam a pauta e aceleraram os projetos essenciais – como o da Lei Orçamentária – para desobstruir os caminhos até Marrakech. Desde que o frenesi de votação aumentou, o boato percorreu os corredores da Câmara. Era verdade. O próprio presidente encabeçaria a fila dos atleticanos edis que viajariam ao Marrocos. Ele negou dispor de meios para isso.
Por razões financeiras e muito menos futebolísticas, eu, de minha parte, não teria qualquer possibilidade de visitar o país africano. Definitivamente, não poderia conceber a ideia de contribuir, por meio do IPTU que pago, para esse furor turístico. Querem gastar o subsídio dele com voo fretado até lá? Tudo bem, mas talvez houvesse coisa mais produtiva a se fazer por aqui, em benefício de seus representados, por exemplo. Se há sessões agendadas, as férias não começaram.
ALGO NO AR
Na Assembleia, o helicóptero de um deputado é apreendido pela Polícia Federal com quase meia tonelada de cocaína. Houve protesto do povo, mas desagravo dos colegas. A instituição vem se empenhando para clarear sua situação: acabou com o jetom, com o auxílio-paletó e investe em transparência. Acontece que realidade de parlamentar se assemelha, talvez, à de goleiro: basta um frango aos 45 do segundo tempo para se jogar por água abaixo uma jornada bem empreendida.
Já no Congresso, buliçoso em razão das emendas que o Planalto reluta em garantir, corre-se o risco, pelo segundo ano seguido, de se votar o Orçamento com o ano já em curso. Além disso, dizem que os costumeiros projetos de criação de cargos aqui e acolá voltarão à pauta da Câmara no apagar das luzes. É de se surpreender para uma Casa que manteve o mandato de um presidiário condenado?
Faz só seis meses que o povo foi pra rua e pôs o dedo na cara de suas excelências. O medo foi só fagulha pelo visto. Quase nada se fez de permanente, e é possível que o Parlamento seja obrigado a se reinventar. Outubro tá logo ali. (transcrito de O Tempo)
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