Manifestações na Copa são a maior ameaça à reeleição de Dilma
Por João Gualberto Jr.
O contexto era de Copa das Confederações, e o Palácio do Planalto prevê que os protestos voltarão na Copa do Mundo, apenas três meses e meio antes da sucessão presidencial. A pergunta que preocupa o governo é: o “fator Copa” vai influenciar o resultado da eleição?
Mais do que os protestos, difíceis de se prever e controlar, a organização do mundial também pode ter impacto nas campanhas, para o bem e para o mal. Em ano de eleição, o Brasil vai sediar a competição esportiva com o maior número de espectadores. A Embratur espera 7,2 milhões de turistas estrangeiros neste ano, claro, atraídos pela Copa. A imagem do Brasil no mundo estará em jogo, e os protestos poderão interferir, em especial, no quesito segurança.
O cientista político Rudá Ricci acompanhou as mobilizações populares em Belo Horizonte e em outras capitais e fez comparações com atos semelhantes de outros países, como o “Occupy Wall Street”, de 2011. O resultado é o livro “Nas Ruas”, que será lançado em fevereiro.
O pesquisador não tem dúvida do potencial negativo da Copa para a eleição. Segundo ele, mais do que a inflação, ou o fortalecimento dos prováveis candidatos de oposição – o senador mineiro Aécio Neves (PSDB) e o governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) –, virão das ruas os principais obstáculos à reeleição de Dilma. “Não está claro se, de fato, os meninos vão conseguir colocar muita gente na rua. Mas vão criar um mal-estar. Não tenho dúvida.”
NOVOS PROTESTOS
Mas se parece não restar dúvidas sobre os novos protestos, elas pairam sobre o poder destrutivo dos atos. Ricci ressalta que o interesse do brasileiro pelo mundial é maior do que pela Copa das Confederações, e os obstáculos a uma partida da seleção podem revoltar muitos torcedores. “Na Copa é a ‘pátria de chuteiras’, não tem jeito”, sintetiza.
Existe também o componente de violência, que pode afugentar muitos cidadãos das ruas. Como ocorreu nos atos de 7 de Setembro, dominados por adeptos da tática Black Bloc nas capitais, não se viram tantos manifestantes pacíficos e famílias completas, como em junho.
Existe, por fim, o fator tempo. Se a popularidade da presidente voltar a cair em junho, poderá se recuperar até outubro? E a queda será tão profunda a ponto de comprometer a reeleição?
O risco depende do nível que a aprovação atingir em meados do ano, aponta o cientista político. Segundo o Ibope, após o pior ponto, em julho, com 31%, a avaliação positiva do governo só subiu.
“Estou impressionado com a recuperação da Dilma. Se em abril, maio, ela tiver um ‘colchão’ de popularidade, mesmo com mobilização forte, pode chegar bem na eleição”, prevê Ricci.
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