A política vem em ondas. Como um mar seria poético demais. Melhor comparar com uma rádio e sua programação repetitiva. O terceiro ano de governo é sempre o mais crítico na relação dos presidentes petistas com o Congresso. Foi assim em 2005 e 2009 para Lula. Repetiu-se com Dilma Rousseff em 2013. Os motivos vão além da coincidência. Desgaste, barganha e chantagem.
Dilma perdeu 16 votações na Câmara no ano passado. Foi o dobro das derrotas que ela sofreu em 2011 somadas às de 2012. Seu núcleo duro de apoio – aqueles parlamentares que votam ao menos 9 em cada 10 vezes segundo a orientação do governo – caiu de 306 deputados no primeiro ano de mandato para 123, quase todos petistas ou do PC do B, em 2013.
É notícia, mas não chega a ser novidade. No seu ano de estreia na Presidência, Lula teve 309 deputados federais ponta-firme. Dois anos depois, o grupo estava reduzido a menos de um terço: 91. No segundo mandato, mesmo o presidente tendo superado o desgaste do mensalão e estar surfando a onda do consumo de massa, o filme passou de novo: os 329 deputados do núcleo duro de apoio no primeiro ano viraram 197 no terceiro ano de governo.
A ciência política um dia explicará esse ciclo de altos e baixos previsíveis dos presidentes e suas bases de apoio no Congresso. Até lá, resta se conformar com o empirismo jornalístico.
O terceiro ano é crítico porque há o acúmulo das denúncias que se abatem sobre a maioria dos governos, sem contar o desgaste de três anos de relação franciscana entre Legislativo e Executivo. Mas é também o ano de criar dificuldades para vender facilidades no momento crucial para todos, o quarto ano, o ano da reeleição.
Às vésperas de barganhar todo o tempo de propaganda na TV e no rádio que puder conseguir, o presidente da vez dificilmente irá às últimas consequências em um confronto com os partidos que lhe dão sustentação no Congresso. Mesmo traído em uma votação ou outra, tende a ceder. E para garantir que isso ocorra, os aliados mostram as garras e lhe impõem derrotas no terceiro ano.
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