Com inflação elevada, contas públicas em mau estado e investimento insuficiente para eliminar gargalos, o Brasil é destaque na lista de países necessitados de ajustes e mais sujeitos a riscos, na agenda política divulgada ontem pela diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde.
Inflação de menos pode frear a recuperação ainda frágil na Europa. O Japão continua em busca de inflação mais alta para destravar a economia e já conseguiu algum sucesso. Em contrapartida, inflação demais em alguns emergentes – Brasil, Índia e Indonésia são citados – deve impedi-los de usar políticas monetárias mais brandas para sustentar a atividade.
“A economia mundial está virando a esquina, mas a recuperação é ainda muito fraca e muito lenta”, disse Lagarde. “Ainda temos 200 milhões de pessoas desempregadas. Portanto, ações audaciosas são necessárias para gerar crescimento mais rápido, forte e sustentável, como indicado em nossa agenda política.”
Maior ousadia será necessária para evitar a deflação no mundo rico, em especial na Europa. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, reiterou o compromisso de usar “medidas não convencionais”, se forem necessárias, lembrou Lagarde. Tradução: essas medidas podem incluir a compra de títulos públicos no mercado em troca de emissão de dinheiro, como nos EUA.
Reformas institucionais, com mudanças nos mercados de trabalho e de produtos, serão necessárias para tornar sustentável o crescimento. Alemanha, Japão, Coreia, Itália e Espanha são citados como países que necessitam desse tipo de reformas.
Com a retomada do crescimento, novos perigos devem surgir. A redução dos estímulos monetários no mundo rico – já iniciada nos Estados Unidos – criará instabilidade financeira e poderá travar o fluxo de capitais para os países emergentes e em desenvolvimento.
Países com grandes necessidades de financiamento ou com dívidas públicas elevadas “deveriam agir prontamente para conter seus déficits”. A lista inclui Brasil, Hungria, Índia, Jordânia e Paquistão. Segundo o texto, os países árabes em transição enfrentam “desafios fiscais consideráveis” e deveriam fortalecer a arrecadação de impostos e reorientar os gastos para investimento e transferências bem selecionadas.
A agenda também examina a perda de impulso de emergentes. Alguns, como Chile, Peru e Tailândia, têm espaço para políticas monetárias mais favoráveis ao crescimento. Outros, como Brasil, Índia e Indonésia, podem precisar de juros mais altos e aperto da política econômica para conter a inflação.
O Brasil aparece entre os que necessitam de mais investimentos – públicos e privados – para eliminar gargalos, junto de Índia, África do Sul e vários asiáticos.
A composição do crescimento global mudou, com maior participação dos ricos, liderados pelos EUA, e alguma perda de impulso dos emergentes, incluída a China, com expansão de 7,5% prevista para 2014. Mas, segundo Lagarde, “as economias emergentes e em desenvolvimento continuarão a contribuir para a massa do crescimento mundial”. Com previsão de alta de 1,8% neste ano e 2,7% no próximo, o Brasil parece destoar desse conjunto. (Estadão)
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