Por Murilo Rocha

 

Dilma nunca foi consenso dentro da base aliada do governo do PT. Em 2010, a resistência a seu nome como sucessora de Lula já era imensa. A ex-ministra de Minas e Energia e chefe da Casa Civil acumulava desafetos por ser considerada àquela época uma pessoa difícil de tratar. Não era de ficar recebendo parlamentares em seu gabinete para ouvir queixas e prometer liberação de recursos – jogo de cena comum na Esplanada dos Ministérios. Mesmo assim, ela foi empurrada goela abaixo dos aliados a pedido do ex-presidente.

Quatro anos depois, a relação de Dilma com a base aliada não mudou. Continua a ser criticada pela dificuldade de fazer política com o Congresso e de fazer afagos em deputados e senadores. Por essa razão seria fácil de entender o fogo amigo de aliados do PT, encabeçando um movimento pelo retorno do ex-presidente Lula como candidato à Presidência.

Mas, agora, há muito mais em jogo. A presidente começa a ser questionada pelos próprios petistas se realmente é a melhor opção para a permanência do partido no poder. Dilma está envolta em uma crise não necessariamente criada por ela, mas pela qual ela está respondendo. Mensalão, Petrobras, inflação, protestos contra a Copa, aparelhamento do Estado são todas heranças de administrações passadas. E nesse quesito, os detratores estão certos: Dilma não é Lula.

ANTIADERÊNCIA

O ex-presidente tinha como uma das grandes virtudes a antiaderência. Nada grudava no petista. Talvez por sua trajetória pessoal e política, pelo seu discurso com forte apelo popular ou simplesmente por seu carisma, Lula, mesmo no auge do mensalão, conseguiu se reeleger e com o processo em andamento ainda emplacou uma candidata inexperiente como sua sucessora.

Dilma já demonstrou não ter essa capacidade. As respostas dadas por seu governo para as crises não agradam ao meio político e muito menos à opinião pública. A afirmação feita ontem pela presidente, garantindo sua candidatura com ou sem partidos aliados, dá a temperatura de como andam as coisas na cozinha do Palácio do Planalto.

Apesar de todas as negativas, a substituição de Dilma por Lula com certeza faz parte das hipóteses discutidas pelo PT neste momento. Legalmente, essa medida poderia ser tomada até 20 dias antes das eleições, mas a dúvida é se não seria tarde demais. Dilma está acossada pela oposição e também pela base, incluindo os próprios petistas. Dependerá muito de sua “teimosia” para manter-se candidata.

Em todas as pesquisas eleitorais realizadas até o momento, mesmo aquelas em que a atual presidente vence em primeiro turno, há um percentual expressivo da população cansado do modo como o Brasil vem sendo governado. Isso não quer dizer necessariamente votos a favor de Aécio Neves (PSDB) ou Eduardo Campos (PSB) – ambos, até agora, pregam apenas reformas superficiais, sem alteração de conteúdo. (transcrito de O Tempo)

 

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