Por Vicente Nunes
Correio Braziliense
Nos últimos 15 anos, a América Latina passou por uma grande revolução. Depois de décadas convivendo com baixo crescimento, inflação fora de controle e consecutivos calotes na dívida externa, a maior parte dos países optou por seguir o caminho da responsabilidade, fato que resultou em grande prosperidade na região, processo, sem dúvida, liderado pelo Brasil.
As previsões mais recentes, porém, põem uma nuvem de incerteza em relação à América Latina. Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicam que a região terá, neste ano, inflação média de 7,4%, mais que o dobro da estimativa para o mundo, de 3,7%. Em relação aos países desenvolvidos, onde o custo de vida deve ficar em 1,6%, a carestia latina será quase cinco vezes maior. Quando se olha para o Produto Interno Bruto (PIB), o mundo deve ter expansão de 3,6% em 2014, e a América Latina, de 2,5%.
PROJEÇÕES ASSUSTAM
Observadas separadamente, as projeções para cada país assustam. São justamente as nações com as quais o Brasil insiste em se aliar — Argentina, que decretou calote em parte de sua dívida, e Venezuela — as que estão em pior situação. Sem maquiagem, a inflação argentina deve passar dos 30% em 2014 e o crescimento econômico será de apenas 0,5%. Na Venezuela, a alta do custo de vida baterá, segundo o FMI, em 75%, fator preponderante para que o PIB do país encerre o ano com queda de 0,5%.
A inflação também assola o Uruguai, que, com Argentina, Venezuela, Paraguai e Brasil, formam o Mercosul, bloco econômico ao qual o Palácio do Planalto está agarrado, abrindo mão de importantes acordos comerciais que poderiam ajudar a economia brasileira a sair do atoleiro em que se encontra. Em 2012, a carestia uruguaia cravou alta de 7,5%, pulando para 8,5% no ano passado, taxa que deve se repetir em 2014. Outro eleito pelo Brasil, a Bolívia, luta para conter a disparada dos preços.
CRESCIMENTO PÍFIO
Não por acaso, gente séria que integra a equipe econômica admite que o Brasil optou por fazer parte do “grupo dos países inflacionários e de crescimento pífio”. É o pior dos mundos. Essa escolha só justifica o tombo na popularidade do governo da presidente Dilma Rousseff, de 36% para 31%, conforme pesquisa do Ibope contratada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Os brasileiros não escondem o descontentamento com a inflação, que vem se mantendo na casa dos 6% há três anos — 71% dos entrevistados desaprovam a forma como o Planalto combate a carestia —, e com o frágil avanço do PIB, uma ameaça real a um bem precioso para a população, o emprego.
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