O bacharel em Farmácia, funcionário público, escritor e poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), um dos mestres da poesia brasileira, fala das angústias de quem esperava mais do viver.

VIVER

Por Carlos Drummond de Andrade

Mas era apenas isso,

era isso mais nada?

Era só a batida

numa porta fechada?

E ninguém respondendo,

nenhum gesto de abrir:

era, sem fechadura,

uma chave perdida?

Isso, ou menos que isso,

uma noção de porta,

o projeto de abri-la

sem haver outro lado?

O projeto de escuta

à procura de som?

O responder que oferta

o dom de uma recusa?

Como viver o mundo

em termos de esperança?

E que palavra é essa

que a vida não alcança?

 

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