A poeira vai baixando mas a ressaca da derrota do Brasil para a Alemanha, em um humilhante 7 a 1 não será fácil de passar. Neste momento, a imprensa internacional tenta dar explicações, e a grande maioria extrapola os limites do gramado. Estão vendo na desorganização do nosso futebol uma das causas principais. É também uma questão sociocultural. Viramos o país da malandragem no futebol, o famoso jeitinho brasileiro. Estão confundindo no Brasil a habilidade com a malandragem.

É tanta simulação que desaprendemos a jogar futebol em pé. Os jogadores perdem oportunidades de gol para se jogar na área. O adversário se aproxima e eles já estão no chão, contorcendo-se de dor de mentira.

Enquanto os países estão investindo em campeonatos mais organizados, estruturação e conceitos que avancem no esporte, continuamos presos ao endeusamento de ídolos, ao improviso e à superproteção da mídia que eleva demais os padrões do que realmente temos. A Globo é praticamente sócia da CBF, e a ela, que detém exclusividade, não interessa mudar o status quo. Falamos em bilhões de reais.

E o povo ainda acha que somos os melhores e isto basta! A Alemanha venceu o Brasil sem precisar driblar, se jogar na área, reclamar do juiz nem vender cueca. Parece que na nossa seleção tudo tem um objetivo comercial.

O ufanismo pela seleção extrapola os limites do bom senso. Os ídolos são inventados para virarem garotos-propaganda. E tem coisa errada quando a cueca de Neymar, o cabelo de Daniel Alves e a bunda de Hulk são mais comentados que a bola que estão jogando. Não estamos nos preocupando com o que de fato interessa, construir um planejamento para nosso principal esporte nacional.

 

A Alemanha aposta no trabalho, não no improviso. Estuda maneiras de se comportar em campo, tem uma equipe para cada situação de jogo. Umas partidas entrou com um centroavante fixo (Klose), outras não. E nós não soubemos mudar nada, era botar a bola no pé de Neymar e torcer que o garoto driblasse todo mundo e fizesse o gol. Este projeto da Alemanha começou há 12 anos.

No começo do jogo aconteceu uma simulação de penalty, logo repreendido pelos alemães e arbitragem. Aqui no Brasil, o replay mostraria que o zagueiro alemão pisou no cadarço desamarrado do nosso jogador, e o juiz é ladrão. O jeitinho brasileiro passa uma impressão de malandragem, de desonestidade. Precisamos voltar a jogar bola, pois fomos campeões do mundo em 1958, 62, 70, 94 e 2002, com times que buscavam a jogada ofensiva. Nem tanto em 94, mas tinha lá Romário e Bebeto. Fizemos bonito também em outras copas, sempre jogando com competência. 74, 78, 82, 86… Foram seleções que jogavam bola.

Outra coisa. Acaba aquela discussão boba de que é melhor jogar feio e ganhar. Não existe isso, o mais correto é jogar bem e ganhar. O resultado é fruto do que você desenvolve, em qualquer esporte. Já ganhamos Copas jogando bem, e já perdemos Copas jogando mal, muito mal, mas ninguém fala. Em 1990 com Lazaronni e 2010 com Dunga. Então, prefiro que jogue bonito. E em 2014 entra pra esta segunda lista. Jogou mal e perdeu. Ah! No jogo, a atriz Danielle Winits foi vista com o colete da FIFA de Fotógrafa Profissional, dentro de campo.

Sabem quando vai acabar o jeitinho brasileiro?

Fonte: Blog Ronaldo César

 

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