Por Vicente Nunes/ Correio Braziliense

 

Dentro do governo, o que se ouve é que, dada a situação atual da economia, com inflação alta no acumulado de 12 meses — o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve se manter acima do limite de tolerância pelo menos até outubro —, o jeito será empurrar com a barriga e apostar nos marqueteiros da presidente Dilma Rousseff para convencer o eleitorado de que tudo vai muito bem.

Do ponto de vista prático, o governo não pode fazer nada. O elevado custo de vida não recomenda ao Banco Central baixar a taxa básica de juros (Selic), que está em 11% ao ano, e, na área fiscal, as agências de classificação de risco Standard & Poor’s e Moody’s estão ávidas por verem o superavit primário deste ano. Se a meta de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) não for cumprida, o rebaixamento do país será inevitável.

O governo ainda está contando com a força do crédito para segurar o consumo das famílias até o fim do ano e, assim, evitar um vexame do Produto Interno Bruto (PIB), mas são remotas as chances de os empréstimos e financiamentos sustentarem o ritmo da atividade.

 

JUROS ALTOS DEMAIS

 

Além de os bancos estarem arredios na hora de fechar operações, temendo o calote, elevaram os juros de uma forma espantosa. Enquanto a taxa básica da economia (Selic) subiu 3,25 pontos desde abril do ano passado, o custo do cheque especial saltou, no mesmo período, 25 pontos. Ou seja, seis vezes mais. Nos financiamentos de automóveis, a alta foi de 9 pontos.

Na visão do sistema financeiro, é mínimo o espaço para as famílias se endividarem. De cada 10 pedidos de empréstimos e financiamentos, no máximo dois estão sendo aprovados, mesmo assim, com garantias seguras de que os pagamentos das prestações serão feitos em dia. Mesmo aqueles que não têm por hábito entrar no cheque especial estão tendo os limites de crédito em conta-corrente reduzidos.

Os bancos justificam que o momento é de ajuste. Como a renda e o emprego já não crescem na velocidade do passado, restringiu-se muito a margem disponível nos salários para a tomada de dívidas. As instituições alegam ainda que são pouquíssimos os novos clientes conquistados pelo sistema nos últimos meses. Então, não há como expandir o crédito, como quer o governo.

 

SEM DEMANDA

 

“De que adianta termos linhas para emprestar se não há quem queira se endividar”, diz um executivo do sistema. “Temos percebido, entre os trabalhadores, um temor crescente do desemprego. Muitos chegam às agências assustados com a possibilidade de serem demitidos diante do fraco desempenho da economia. O pior é que a maioria já está com a corda no pescoço”, acrescenta. Ele diz mais: “A falta de espaço no orçamento para tomar crédito não se restringe às pessoas físicas. Também entre as empresas, os limites para dívidas estão estourados”.

No entender de técnicos da equipe econômica, há exagero no discurso das instituições financeiras. Com base em informações do Banco Central, eles garantem que o sistema está sadio e com folga para liberar crédito. A resistência maior está entre as instituições privadas, que, no discurso, dizem estar atuando normalmente, mas, na prática, botaram o pé no freio como há tempos não se via.

 

ARRUMANDO A CASA

 

Apesar das críticas ao que chama de má vontade dos bancos, parte do governo reconhece que, após forte expansão, com crescimento anual superior a 20%, o mercado de crédito ao consumo necessitava equilibrar as contas. A arrumação da casa, sobretudo depois das medidas macroprudenciais baixadas pelo BC no fim de 2010, resultou em menor quantidade de recursos disponíveis no sistema. E, provavelmente, fez cair o risco de calotes em série.

 

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